Yakatabune: deslizando pelas águas de Tóquio. Um cruzeiro entre arranha-céus.
Já passaram algumas semanas desde que voltei do Japão, mas as memórias dessa viagem continuam vívidas e frescas. Dou por mim a rever as fotografias e os guias de viagem e sinto uma enorme nostalgia.
Viajar é, para mim, um prazer incomparável. Não é só a quebra da rotina que me atrai.. embora naturalmente, passear é sempre melhor do que estar sentada no escritório horas a fio, a olhar para o computador... Talvez seja a adrenalina da descoberta, o chamado "wanderlust" essa vontade de conhecer o mundo, outras culturas, outras paisagens, novos territórios físicos e sociais. Em cada viagem dou por mim, a imaginar como seria ter nascido naquele país, ter aquela vida, viver aquelas rotinas tão diferentes das nossas e por vezes, tão iguais...
Baía de Tóquio e os cruzeiros Yakatabune
Dizem os especialistas, que, em viagem nunca se deve comparar o que vemos com o que temos em casa. Bem dito na teoria, mas na prática é bem diferente. É normal utilizar as nossas referencias culturais para avaliar o Outro e os países. Senão, como poderíamos observar? Seria apenas ver? Testemunhar? Não acredito que alguém seja capaz de viajar sem avaliar, sem reflexionar, sem comparar, sem negociar as nossas expetativas e referências com o que encontramos. E é aí nessa conversa silenciosa, entre nós e o mundo, que nos voltamos a reinventar e a redescobrir.
E estou para aqui, a pensar em tudo isto, porque encontrei as fotografias do cruzeiro na baía de Tóquio. Durante toda a viagem, não houve momento mais lúcido, mais bonito e mais feroz que este. Mas já lá vamos. Primeiro, a contextualização.
Uma paisagem urbana que convida à reflexão
Barco Yakatabune - Funasei
Uma das noites foi passada num Yakatabune, um barco de cruzeiro tipo bateaux-mouche de estilo japonês. Esta é das formas de conhecer Tóquio, uma cidade polifacética e com tantas paisagens diferentes. O mini-cruzeiro é feito num barco restaurante, decorado ao estilo tradicional com chão de tatami e mesas baixinhas, mas que permitem esticar as pernas (as Horigotatsu). A oferta gastronómica contempla sushi apresentado numa travessa de madeira (a Funamori) e a tempura, uma variedade de mariscos, peixes e verduras passados por polme e fritos, uma receita com influências portuguesas.
Funamori, barco de sushi e variedades de tempura.
Os Yakatabune têm muitos séculos de existência e a palavra significa literalmente “barco-casa”. Reza a história que os cruzeiros na baía começaram a realizar-se na época Heian (794-1185), mantiveram-se no período Edo (1603-1868), até chegar à realidade contemporânea. Por dentro, os barcos conservam um caráter tradicional, mas as carcaças e motores são modernos, têm ar condicionado e até sistema de karaoke...
Gravura mostrando barcos no período Edo
O cruzeiro na Baía de Tóquio foi-nos recomendada pela agência devido às vistas incríveis sobre o horizonte de prédios e arranha-céus, mas também pelo entretenimento tradicional. À chegada fomos recebidos por uma senhora ataviada com quimono que nos acompanhou até à mesa. Os sapatos ficaram cá fora, guardados num armário e todos caminhámos descalços sobre o tatami. Durante a noite, entre prato e prato, fomos agraciados com um concerto de shamisen, uma espécie de cítara com três cordas. Mas o verdadeiro espetáculo acontecia lá fora...
A Baía de Tóquio ganha um novo charme ao anoitecer quando os arranha-céus se iluminam, revelando formas incríveis. Com a chegada do crepúsculo, nas centenas, milhares, milhões de janelas acende-se uma lâmpada. Primeiro uma, depois outra, seguindo-se um turbilhão de luzes. Quantas histórias humanas, destinos, alegrias e tristezas se desenrolarão em cada uma dessas janelas iluminadas?
Foi ali, no convés do barco Yakatabune, que tive um desses momentos de revelação. Quando a paisagem nos impacta, nos faz sentir pequeninos, míseros grãos de areia a esvoaçar ao vento... Eu não vivo numa grande metrópole e por isso, estas excursões às selvas de ferro e cimento armado impressionam-me de sobremaneira. Esmaga-me essa sensação de multidão, de milhares de vida encapsuladas numa cidade. Que correm, vivem, morrem, num silêncio ensurdecedor. Nesse barco, à medida que vamos sulcando as águas desfilam vários pontos de interesse: A ponte arco-íris (Rainbow Bridge), as luzes do Porto de Shibaura, as torres do Conrad Hotel, a estátua da liberdade em Odaiba, a roda-gigante (Giant Sky Wheel) ou a torre de comunicações de Tóquio - uma espécie de torre Eiffel tecnológica... Mas a mim, o que me impressionou realmente foi a quantidade de vidas anónimas compactadas em caixotes urbanos de desenho. E certamente de aí, de uma dessas janelas, alguém estaria justamente a pensar o mesmo que eu...
Para mais informação e reservas consulte o website da Associação de Barcos Yakatabune em Tóquio: http://www.yakatabune-kumiai.jp/en/index.php
Eu viajei no barco da companhia Funasei (https://www.funasei.com) mas há outras companhias a oferecer estes serviços.
さようなら Sayōnara, Adeus !
Créditos Fotográficos: Avenida Chique | Tokyo Yakatabune Association | Funasei
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