Sonhando com os raviolis de aipo, ostras e caviar imperial do Vila Joya
A Avenida Chique não nasceu num lugar qualquer. Foi ideada à mesa, brindada à nascença com champanhe e a inspiração chegou com a degustação de pratos lindíssimos e de sabores exigentes. Pois foi, este blog nasceu numa das mesas mais especiais de Portugal, no restaurante do Vila Joya. É já uma trivialidade dizer que é um dos melhores restaurantes do país, afinal consta de todos os guias gastronómicos, foi distinguido com duas estrelas Michelin e ocupa a 22ª posição da lista dos melhores restaurantes do mundo. Esta é a quarta ou a quinta vez que mergulho no mundo gastronómico do Vila Joya e é sempre uma experiência maravilhosa.
O serviço é irrepreensível. O charme da velha escola vem adoçado com sorrisos elegantes, luvas e uniformes brancos de inspiração mourisca. Paulo é a alma da sala. Dieter Koschina o grande artista por detrás das criações gastronómicas. Perdoem-me se coloco no mesmo pedestal a ambos, mas creio que me entendem... a haute cuisine só pode ser apreciada no seu máximo quando todos os instrumentos da grande orquestra tocam em uníssono e conformam uma experiência gastronómica completa.... o serviço, a harmonização dos vinhos, o ambiente, a paisagem, a música... É por oferecer uma experiência tão completa que vale a pena visitar (e repetir) o Vila Joya.
Vistas cénicas sobre o mar
Se me permitem a sugestão, escolham uma mesa no terraço e à hora de almoço... as vistas sobre o jardim "à beira mar plantado" são inefáveis. Entre cada amuse-bouche pode descansar o olhar numa das palmeiras esvoaçantes, num barquinho que passa ao longe, ou inspirar o aroma dos pinheiros mansos e da brisa marinha.
Na minha opinião, se for jantar perde a possibilidade de desfrutar da vista o que diminui claramente o valor da experiência, mas ganha em ver o Vila Joya iluminado com mil e uma luzinhas e velas. Para além disso, ao almoço podemos deixar-nos tentar e até comer um pouco mais do que devíamos, porque ainda temos o dia todo pela frente... haverá algo mais maravilhoso do que desfrutar de um longo almoço e não estar a olhar para o relógio..
Menu para Reis
Todos que os pratos que provei são maravilhosos. A apresentação é cuidada até ao ultimo detalhe e os sabores são complexos, equilibrados e surpreendentes. Os meus pratos favoritos são... bem não devia chamar-lhe prato... mas sim experiências gastronómicas... o primeiro prato... Raviolis com aipo, ostras Gillardeau e caviar imperial... divino. Na ultima vez pedi uma Sopa de Champagne que também estava deliciosa... mas como sabem que adoro os raviolis fizeram-me uma pequena porção para acompanhar a sopa... já viram que atenciosos? Como prato principal recomendo o Peixe galo, ravioli de pepino e molho Pommery... leve, fresco, muito refinado. Para a sobremesa provem a composição de manga tailandesa, coco e tapioca... de morrer!
Carta... com e sem preços...
Existem algumas peculiaridades neste restaurante que me parecem dignas de nota. A carta do restaurante existe em duas versões... a carta das senhoras, sem preços e a carta dos senhores, com preços. Confesso que há alguns anos, quando visitei o restaurante pela primeira vez e me apercebi da existência da carta das "senhoras" fiquei um pouco revoltada. Afinal, lutamos pela igualdade de género, onde as mulheres devem ter livre acesso às carreiras académicas e profissionais e podem perfeitamente pagar as contas, convidarem e serem convidadas. Depois de uma certa reflexão concluo que não se trata aqui de provar se as mulheres são ou não independentes. Creio que este é o espaço de conversa não entre géneros, mas sim entre pessoas, entre quem convida e quem é convidado. E que bonito é, que num mundo tão capitalista exista um espaço onde por galanteria, alguém pode convidar o outro, ser amável e concentrar-se na experiência e não no preço. A mulher ou o homem que seja ali convidado está a ser homenageado com uma experiência para os sentidos.
Banquinho para a carteira
Outro detalhe, é o banquinho para as carteiras das senhoras. Todos os bons restaurantes deviam pensar neste pormenor. Afinal, as bolsas das senhoras são objetos amados, desejados (e por vezes, muito caros) e têm que ter o seu próprio sítio. Não há nada mais detestável do que ir a um restaurante e ter que colocar a carteira no chão.
Entrada peculiar
A entrada do restaurante também me parece peculiar... O restaurante está situado num pequeno boutique hotel à beira-mar, perto da praia das Pedras Amarelas em Albufeira (Algarve), mas o edifício parece uma bela moradia particular. Para entrar temos que tocar à campainha e abre-se um portão verde para o estacionamento privado num pequeno jardim. Realmente parece que estamos a visitar alguém ou a chegar a casa. Essa entrada sem grandes cartazes e neóns, faz do sitio um pequeno segredo bem guardado, longe de olhares e de confusões humanas. Talvez tenha sido essa a ideia de Claudia Jung, a criadora do Vila Joya. De raízes austríacas, Jung deixou a propriedade impregnada do seu amor pelos pequenos detalhes e o gosto pelo luxo não ostentoso, discreto e eterno. Hoje, a sua filha Joy Jung continua a dar asas ao sonho da sua mãe.
Copyright Fotos: Avenida Chique.
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