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Grand Canyon: a grande força da Natureza.

As paisagens sublimes do Grand Canyon enchem-nos a alma de paz. Os dramáticos recortes das rochas, escarpas e vales em tons avermelhados, ocres e amarelo-mostarda, contrastam com o céu azul do deserto de Mojave. Aqui ouve-se o silêncio a acariciar os rochedos e a escoar-se entre as correntes de ar frio e quente que emanam do rio Colorado.

De Helicóptero pelo Gran Canyon

No ano em que se celebram os 100 anos dos Parques Nacionais Americanos, voltei ao Grand Canyon. Escolhi um pacote de experiência da agência Papillon Tours que inclui uma viagem em avioneta, voo de helicóptero de descida ao desfiladeiro, barco catamaran para navegar as águas do rio Colorado, vários pontos de visita incluindo o rancho da tribo Hualapai, o Guano Point e o Eagle Point onde se situa o Skywalk. Os preços deste tipo de tours são um bocado puxados. Pode contar com um valor entre os 300 e os 450 euros por pessoa, mas a experiência vale realmente a pena. A Papillon Tours é apenas uma das empresas que oferece este tipo de experiências turísticas no West Rind, mas existem outras como Maverick ou a Scenic Airlines.

Grand Canyon

O Grand Canyon é um dos Parques Nacionais Americanos mais visitados e estende-se por uma área de mais de 450 km. Os desfiladeiros chegam a ter 1,7 km de profundidade e a sua largura varia entre os 6 e os 30 km. Trata-se de um cenário natural criado pela força da erosão dos ventos e da água ao longo de milhões de anos. O rio Colorado arrasta com a força das suas águas milhares de pedras e sedimentos entre as Rocky Mountains em Colorado passando por vários estados como Wyomming, Utah, Nevada, Novo México, Arizona e Califórnia até desaguar no Golfo da Califórnia no Oceano Pacífico.

Esta não é a minha primeira visita ao Grand Canyon. Há 10 anos fiquei tão enjoada com a viagem de helicóptero que não pude apreciar (literalmente) a beleza do Parque Nacional. Desta vez, preveni-me com medicamento anti-enjoo e percorri a distância entre Las Vegas e o Grand Canyon numa avioneta, em vez de helicóptero. O voo em avioneta é mais estável e menos propício a enjoos. Da outra vez, os quarenta e cinco minutos de voo foram um autêntico suplício e jurei para nunca mais. Por isso, aceitei voltar na condição de fazer o percurso aéreo em avioneta. Sente-se menos a turbulência provocada pelas diferentes bolsas de ar frio e quente que se formam nesta zona. A outra alternativa é percorrer os 220 km em autocarro, que demora cerca de três horas para ir e outras tantas para voltar.... Não, muito obrigada.

Fotografia aérea tirada desde o helicóptero.

De Vegas ao Aeroporto

O ponto de destino é a zona do West Rim, dentro da reserva indígena da tribo Hualapai, onde as cores e as formas paisagísticas deste cenário natural são surpreendentes. Do hotel em Las Vegas somos conduzidos em mini-bus até a um pequeno aeroporto de a uns 30 minutos de distância. Pelo caminho, todo feito em autoestrada, veem-se muitas casas e condomínios vazios, campos de golfe e por vezes, a paisagem amarelada do deserto. No terminal de voo pesam-nos para depois distribuir-nos corretamente pela avioneta (nada de medo da balança). Deste aeroporto também saem helicópteros. Só de olhar para eles, o meu estômago começa a retorcer-se com as memórias da experiência anterior. Tomo uma biodramina com cafeína para acalmar e prevenir o enjoo. Não vá o diabo tecê-las.

Enquanto esperamos pelo nosso voo, conduzem-nos até à loja de souvenirs. Surpreende-me a capacidade americana de transformar qualquer atração numa coleção de produtos de merchandising. Há chaveiros, bonecos, pinturas, postais, fotografias, camisolas, mochilas, batatas-fritas, sumos, café aguado, tudo com o logótipo do Grand Canyon, claro. Descubro uma caixa de insetos fritos com sabor a "queijo e bacon" e pergunto-me que tipo de pessoa come algo assim antes de um voo instável. Devem haver muitos estômagos intrépidos por aí. Opto por comprar uma garrafa de água.

Estava um bocadinho ventoso...

Sobrevooando a Barragem de Hoover

Está na hora de embarcar. Caminhamos até à avioneta e um vento diabólico levanta-me os cabelos no ar. Começo a ficar realmente nervosa. Ordeiramente, sentamo-nos no interior da avioneta em bancos estreitos. Os joelhos ficam encostados ao assento da frente. As caras coradas dos passageiros indicam o nervoso mal disfarçado. Com os auscultadores na cabeça e as mãos suadas firmemente agarradas ao assento da frente, enfrentamos a descolagem. A avioneta treme por todos os lados e a música dos auscultadores lembra um filme de Indiana Jones. Passados uns minutos chega a primeira turbulência e damos um salto no ar. O meu estômago cola-se às costelas. Fecho os olhos e pergunto-me porque é que me meto nestas coisas. Depois a viagem acalma e o trajeto faz-se sem maiores turbulências.

Sobrevoamos num voo limpo a grande barragem de Hoover e o lago Mead. Dos auscultadores ouve-se uma narração pré-gravada com música e informação sobre as magnitudes da construção. Quase no fim, consigo relaxar-me e até tiro algumas fotografias. Desde esta perspetiva pode-se observar o espetáculo natural do Grand Canyon e deleitar a vista com as formas avermelhadas e amarelo-ocre do deserto de Mojave. A aterragem é suave, mas os passageiros nervosos dão um aplauso de felicidade. Desta já escapámos. Agora sim começa a aventura.

Os helicópteros na Reserva Índia

Estamos no centro de partida dos helicópteros do West Rind do Grand Canyon, numa reserva índia. Um membro da tribo Hualapai dá-nos as boas-vindas e passa-nos a uma tenda enorme onde devemos esperar a nossa vez para o voo em helicóptero. Aqui também há milhares de souvenirs "autênticos" com desenhos dos índios. Não resisto a dar uma espreitadela nas etiquetas. “Made in China”, claro, já me esperava.

Chamam-me e caminhamos até à terminal dos helicópteros. O ruído é ensurdecedor e o coração começa a bater mais forte. Há pelo menos uma dezena de helicópteros a aterrar e a descolar. O rebuliço é tremendo e sinto-me como a protagonista de um filme de guerra americano, a adrenalina a later nas minhas veias. Fazem-nos sinal para entrar num dos helicópteros. Sento-me à frente com o piloto, que sorri e faz-me sinais para estar tranquila. Inicia-se o voo com uma subida vertiginosa, seguida de uma descida pelas formações rochosas do Grand Canyon, até chegar ao vale do Rio Colorado.

O passeio é muito agradável e muito curto. São cerca de oito minutos que passam num ápice. A boa notícia é que nem tive tempo para enjoar e desta vez diverti-me com uma criança pequena numa montanha russa. As formas do desfiladeiro transformam-se à medida que nos aproximamos e desvendam cores magníficas. A sombra do helicóptero vê-se refletida na parede do Canyon e por nós passa um outro helicóptero. Desde esta distância parece pequenino como uma mosca. Passado uns segundos o helicóptero desaparece engolido pela imensidão milenar do desfiladeiro. A aterragem foi mais suave que o cair de um bola de algodão.

No vale do Grand Canyon, cheira a deserto, a rocha e a sol.

O desfiladeiro parece tão irreal que estendo a mão para tentar perceber onde estou. Não toco em nada, apenas na minha incredulidade. A rocha contrasta com um céu de azul crepitante. A luz solar acentua as sombras, realça as texturas dos rochedos e das escarpas, forma figuras imaginárias. Ali uma caveira, acolá uma águia, ao fundo talvez uma cabeça humana... Parece-me que a qualquer momento aparecerá John Wayne montado a cavalo e com um cigarro na boca. Os arbustos secos do deserto emanam um perfume a cominhos e a cesto de vime. Faz calor. Estamos em Abril e já o clima seco do deserto alcança os 35 graus.

Desço por um caminho em terra esfarelada e pedra até ao fundo do desfiladeiro para encontrar as margens frescas do rio Colorado. A água corre tingida de tonalidades verdes e acastanhadas, arrastando consigo milhares de pedras e sedimentos. Não resisto em mergulhar a mão para sentir o fresco arrepiante deste mítico rio. Um catamaran com capacidade para 10 pessoas leva-nos num pequeno cruzeiro de descoberta. Sulcamos as águas. Impressionam as paredes do Canyon e uma neblina de pó que emerge das margens quentes. Fico meio hipnotizada com o baile da neblina que cria formas fantásticas ao ser atravessada pelos raios de sol. A viagem é curta (15 minutos) mas dá para sentir o pulso a este lugar majestoso.

O silêncio da natureza é cortado pelo ruído dos helicópteros que se sucedem num vai-e-vem sem fim de leva e traz turistas. Fiquei com vontade de permanecer ali, junto à margem do rio à espera do pôr-do-sol e do fim dos voos de helicóptero, para poder engolir a paz e toda a beleza do mundo.

Rancho de Cowboys e Índios

Ficou apenas a vontade, pois já nos apressam para tomar o voo de helicóptero de volta. Nova aventura, o coração a bater depressa e os olhos nervosos a captarem a maior quantidade de impressões possíveis.

Voltamos à reserva índia e de aí partem vários autocarros em direção ao rancho e aos pontos de interesse. O rancho dos Huanapai é uma rua com casas de madeira que emulam as antigas cidades do "old farwest". No centro dois cowboys de pele tostada e chapéu americano entretêm-se a lançar laços de corda a uns bois de palha. Entramos no "Saloon" onde nos espera um frango assado sofrível, uma cookie requentada e uma água acastanhada a que chamam pomposamente, café. Saio a correr deste sitio feito expressamente para turistas e vou ver os cavalos que pastam tranquilamente no cercado.

De aí apanho um novo autocarro para ir conhecer o Eagle Point, um ponto de observação do Canyon onde se pode apreciar uma formação da rocha que parece uma águia com as asas abertas. Aí nos últimos anos edificaram uma das "maravilhas do mundo" o Skywalk, uma passagem em vidro sobre o desfiladeiro.

O Skywalk

Dentro do Skywalk não é possível tirar fotografias com telemóveis ou câmaras, sendo obrigatório recorrer ao serviço de fotógrafo se se quiser ficar com uma recordação da passagem. Impressiona passear sobre a passadeira de cristal com milhares de metros de precipício debaixo dos nossos pés.

Vi uma série de pessoas adultas a voltar para trás e outras aterradas, agarradas ao corrimão. O meu marido nem se atreveu a sair e ficou na zona interior. Eu lá me aventurei. Calcei os protetores de sapatos e caminhei com cuidado pela passadeira. Por baixo abre-se o desfiladeiro e parece que vamos desintegrar-nos a qualquer momento e cair ao abismo. Aqui não se ouvem os helicópteros, só a respiração ansiosa de quem caminha sobre os seus medos.

Guano Point

O dia no Grand Canyon ainda não terminou. O próximo ponto de paragem é Guano Point. Aqui tenho tempo para sentar-me a apreciar a pintura impressionista da luz do fim de tarde sobre as formas do desfiladeiro. Um grupo de corvos negros sobrevoam o meu horizonte, deixando marcas azuis e negras no silêncio do ocaso.

A volta em avioneta foi uma grande surpresa. Sem vento, a viagem mostrou-se pacífica, oferecendo um momento de evasão aos meus pensamentos sobre as paisagens douradas. É impressionante testemunhar o pôr-do-sol que desenha formas fantásticas sobre a paisagem do deserto, do lago Mead e da barragem de Hoover Damp. Nada de enjoos, pura poesia.

Se vale a pena visitar o Grand Canyon? Vale sim, ultrapasse os enjoos, os medos e as vertigens e deixe a Natureza surpreendê-lo. O único contra? O preço... mas também não é todos os dias que se experiencia algo assim...

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