Kawaii Monster Café. O bizarro mundo do fofinho em Tóquio.

Unicórnios, monstros de peluche, o império do rosa e dos tons pastéis, música eletrónica para crianças, mulheres adultas vestidas de bonecas ingénuas, sessões de dança que envergonhariam a qualquer pessoa normal fora deste contexto, luzes psicadélicas e muito, muito mais conformam o desfile de cor e do fantástico do Kawaii.

Kawaii significa "culto do fofinho" um movimento cultural com raízes pop-art e kitsch muito presente na sociedade japonesa atual. Se tem vindo a ler as minhas crónicas de viagem sobre o Japão, perceberá que esta experiência marca um antes e um depois. Deixámos para trás o Japão tradicional e entramos aqui num mundo desconhecido, tão estranho que se torna atrativo, futurista, bizarro e à sua maneira inesquecível.

O templo da bizarrice chama-se Monster Kawaii Café, um restaurante numa das movimentadas zonas de Tóquio, Harajuku o bairro de moda mais frenético e conhecido do Japão, lugar de peregrinação para todos os fashionistas extravagantes deste mundo e bem perto da famosa rua Takeshita [à qual também dedicarei um post específico]. Logo à entrada fomos recebidos por umas atrativas bailarinas vestidas com atuendos carnavalescos, que oscilavam entre o super-fofo e o super-estranho. Rendas, tules, luzinhas, peluches e sapatilhas de bebé, tudo servia para "vestir o boneco".

Atraídos pelas luzes de néon entramos na gruta do monstro. Um carrossel gigante, saído talvez da "Alice no País das Maravilhas", roda ao som de música eletrónica. Existem vários recantos, cada um com o seu desenho mais estridente e original. Há biberões pendurados no teto, um bar em forma de medusa futurista, um unicórnio passeia-se com panquecas de cores, um empregado passa com comida que parece de plástico. O desfile das cores e das formas bizarras é impagável, e ainda são só as 13:30. Sim, viémos almoçar a este antro do fantástico.

O Kawaii é uma forma de arte pop-cool que se estende à pintura (ver os trabalhos de Econeco), à moda, à banda desenhada, ao cosplay (vestir-se de forma carnavalesca) e aqui, neste restaurante, foi levada ao extremo, conseguindo criar um mundo absolutamente diferente de tudo aquilo que conhecemos. É como entrar num parque de diversões só para adultos, onde é permitido e aceite alimentar a fétiche pelo rosinha-bebé, pelo fru-fru e fofices várias. Para um ocidental (de qualquer idade) esta visita vale tanto como ir a um templo ou um museu. É presenciar uma realidade alternativa, nem certa, nem errada, mas que também faz parte deste Japão dos contrastes.

O Kawaii Monster foi inaugurado em 2015 e nasceu do ingénio criativo de Sebastian Masuda, cuja intenção era criar uma experiência nunca antes vista e que fosse capaz de exacerbar todos os sentidos. O artista também conhecido na cultura pop-cool asiática por dirigir os videos musicais de Kyary Pamyu Pamyu e ser o dono da boutique "Anarquia Kawaii" no bairro de Harujuku deu corda à imaginação criando um extravagante mundo onde encontramos uma discoteca de cogumelos psicadélicos e venenosos, a floresta dos biberões com coelhos brancos e outros animais imaginários que bebem leite, a sala de chá francesa decorada com doces e macarrons gigantes, o bar medusa que transporta os clientes para o maravilho mundo subaquático e ainda o carrossel em forma de bolo de aniversário gigante. As bailarinas interpretam cinco personagens, os "monstros" cujos trajes foram desenhados pela estilista Misha Janette.

A meio do almoço, que incluiu spaguettis de cores estridentes, hambúrguers roxos e cup-cakes azuis com olhos de monstro, ouve-se uma japonesa a gritar, excitadíssima, lá do alto do carrossel. Se o que tínhamos visto até agora parecia estranho, o que se segue é ainda mais bizarro. As bailarinas vestidas de boneco de peluche sobem ao carrossel para dançar e animar os clientes. Homens de negócio em fato, avozinhas de passeio, casais de enamorados e grupos de amigas juntam-se às bailarinas, coordenados numa coreografia alucinante.

Não sei o que pensar. O meu cérebro pasmou no meio de tanta loucura. E sem me aperceber, deixo os preconceitos e o sentido da ridículo a descansar na cadeira, levanto-me e sigo o grupo em êxtase...