Kanji, Cerimónia do Chá e Mochi. Workshops de cultura japonesa em Quioto.
Konichiwa, Olá! Em Quioto, antiga capital imperial do Japão, tivémos a oportunidade de participar em três workshops de cultura japonesa, nomeadamente aprender a desenhar um ideograma da caligrafia kanji, participar na tradicional cerimónia do chá e arregaçar as mangas para prepar os mochi, bolinhos de arroz adocicados e com uma textura melosa.
No centro antigo de Quioto (Kyoto) encontramos a um restaurante muito especial, The Sodoh Hygashiyama, que para além de oferecer uma cuidada variedade gastronómica também tem à disposição vários workshops de cultura japonesa. Marcámos com antecedência e conseguimos inscrever-nos numa aula de demonstração de caligrafia japonesa com a artista Keinosyo, uma versão curta da cerimónia do chá japonês e participámos num ritual folclórico de preparação dos mochi, umas bolas de arroz típicas.
Caligrafia Japonesa
Na sessão de caligrafia a artista Keinosyo mostrou-nos como usar o pincel para desenhar um ideograma. Os alunos japoneses demoram cerca de nove anos a aprender os diferentes ideogramas que têm origem chinesa. Existem aproximadamente 2.000 ideogramas que são combinados para formar ideias, palavras e conceitos. Lêem-se na vertical e da direita para a esquerda.
Neste workshop o objetivo era aprender a pintar o ideograma que significa "Flor". Fizemos várias tentativas e devo dizer que parece mais fácil do que é. O pincel tem uma forma e uma técnica especial para a qual é preciso algum treino. Fiquei no entanto, bastante feliz com o resultado. No final da aula a artista escreveu uma frase utilizando a caligrafia kanji, cujo significado simboliza a transitoriedade da vida. O pincel de Keinosyo move-se rapidamente, o corpo e a cara da pequena japonesa entram numa espécie de transe, até que no papel branco começam a aparecer, um atrás de outro, os ideogramas. Fiz um pequeno filme desta performance que podem ver no Instagram do blog... vale a pena!
A Cerimónia do Chá
A cerimónia do chá japonês é muito mais que uma desculpa para tomar chá, é um ponto de reunião e de homenagem a uma cultura milenar. Existe uma expressão japonesa "ichigo, ichie" que descreve esse sentido de reunião, um momento para a reconcilliação, para a meditação.
O chá é muito apreciado no Japão, especialmente pelas suas qualidades medicinais. Inicialmente, perto do século VIII terá sido importado da China e à posteriori estabeleceu-se o cultivo no Japão. A nobreza e as grandes famílias começaram a tomar o chá e este pôs-se de moda, sendo hoje parte indissociável da cultura japonesa em todas as classes e famílias. A associação do ritual do chá a cerimónias espirituais terá acontecido mais tarde. Os livros referem a Murato Shuko, quem no século XV terá desenvolvido a cerimónia religiosa para impressionar os samuráis.
O chá utilizado para a cerimónia é o chá verde em pó, matcha. O chá é bastante amargo e é servido sem açúcar. Por isso, antes de beber o matcha serve-se um docinho para preparar o paladar. O doce wagashi tinha sabor a saké de limão e uma consistência gelatinosa. O pó do chá é servido numa taça em porcelana - chawan- . Em seguida servem-nos á gua a ferver e pedem para bater o chá em movimentos retos com um pincel em bambú chasen, até que o pó se desfaça.
Para beber o chá, é preciso agarrar na taça com as duas mãos, em específico usando a palma da mão direita para segurar a taça e a esquerda para amparar. A etiqueta manda rodar a taça à direita, 9o graus, de forma a que face pintada da taça não entre em contato com a boca. Sorve-se em três golos. Os utensílios utilizados na cerimónia do chá continuam iguais aqueles que se utilizaram em séculos anteriores e são propositadamente rústicos e simples, recordando os valores da filosofia zen.
Os Mochi: bolinhos de arroz e as marretas folclóricas
Até hoje nunca tinha ouvido falar dos mochi. São umas bolinhas elaboradas com arroz cozido amassado até à exaustão. O resultado é uma massa elástica com uma textura melosa. Não são especialmente deliciosos mas o que é interessante é ver como se preparam tradicionalmente, o ritual do mochisuki.
Numa taça de pedra é colocada a massa de arroz. Depois, esta é batida como se estivessem a malhar o trigo. Uma marreta de madeira bate na massa enquanto que um assistente vai dando volta à massa e adicionando um pouco de água. A massa é sovada num movimento contínuo e que se vai intensificando até chegar a um ritmo impressionante. Chega a um ponto que começamos a duvidar quando é que a marreta vai acertar na mão do assistente. Cada vez que dão uma marretada na massa gritam - qualquer coisa que eu não percebi -, e vão ficando cada vez mais emocionados.
Depois da massa sovada elaboram pequenas bolas e servem...
Fui convidada a "usar a marreta" e pensei que ia ser fácil... mas é preciso força para mover o instrumento porque a massa faz uma força descomunal... tenho que ir mais ao ginásio.... No fim deste post, publico um video que encontrei no Youtube sobre o ritual do mochisuki...
Gostei muito deste contato com a cultura japonesa, embora tenha consciência que estas workshops estão formatadas para turistas e representam apenas uma fração do ritual completo. Porém, agradeço a oportunidade de ter presenciado estes postais de cultura e folclore japonês... saí, com certeza, mais rica!
E acharam que a imersão na cultura japonesa acabou por aqui???... não, não... depois levaram-me ao salão para desfrutar de um jantar vestida em quimono e presenciar um baile de Gueishas autênticas... espere pelo próximo post...
さようなら Sayōnara, Adeus !
Créditos Fotográficos: Avenida Chique
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