Quero Kobe! Restaurante Garden Oriental Osaka. Onde a carne é poesia.

Depois de um intenso dia em Nara, visitando os templos Todai-jí e Kasuga Taisha, voltamos a Osaka em bus privado. Demorámos pouco mais que uma hora e meia. Tomámos um duche rápido no hotel Ritz Carlton e fomos conhecer um dos restaurante mais emblemáticos de Osaka, construído como sala de visitas oficial da cidade para receber a altos dignatários, ministros e realeza.

A gastronomia japonesa é muito variada, conhecendo influências mais modernas e contemporâneas como redutos tradicionais que variam segundo a geografia ou a localidade. Porém, para o mundo ocidental, quando se fala em Japão e gastronomia, a primeira ideia associada é o Sushi e depois vem a carne maturada premium de bovino Wagyu, também conhecida como Kobe. Viémos jantar ao Restaurante Garden Oriental em Osaka, para experimentar o melhor do bife Wagyu em diferentes níveis de marmorização...

Antes de passar à descrição das bondades gastronómicas restaurante, importa fazer uma contextualização sobre o Wagyu e o Kobe, especialmente para os leitores que não têm tanta experiência com a gastronomia japonesa.

O Kobe é uma classificação dada a um certo tipo de carne de bovino Wagyu que apresenta um aspeto marmorizado, devido à fisiologia própria e ao crescimento pacífico do animal. Dizem aliás, que as vacas japonesas são das mais felizes do mundo, já que durante a sua vida ouvem música clássica, o corpo é massajado com frequência com Saké (vinho de vinagre de arroz) e crescem numa paz pachorrenta. Assim, se não se "estressam" não desenvolvem fibras e produzem uma gordura que aporta aroma e sabor à carne. Esta gordura aparece entremeada na carne vermelha formando um padrão de tipo mármore. Quanto maior for o quoficiente de marmorização da carne, melhor.

Os Japoneses são muito estritos e estabelecem que a carne do Wagyu tem de ser de excelente qualidade e classificam-na segundo os 12 graus de marmoreio. A partir do grau 6 é considerado carne de tipo Kobe. O marmoreio da carne é conhecido internacionalmente como Beef Marbling Standard (B.M.S.) As vitelas de vacas e bois Wagyu japonesas não se vendem em grandes lotes e em leilões como na Europa ou nos Estados Unidos. A compra é feita de forma criteriosa, olhando-se para o pedigree do animal, comprando-se a carcaça de forma individual.

Durante muito anos só existia produção de Wagyu no Japão, sendo absolutamente proibida a sua exportação. Porém, um dia e depois de um misterioso robo de semén de boi que tinha sido enviado a um laboratório holandês, começaram a aparecer Wagyu na Europa e nos Estados Unidos. (Para quem quiser saber mais sobre este tema recomendo a leitura dos post de Bruno Uehara, veterinário brasileiro, autor do excelente texto: "A criação do Wagyu no país do sol nascente".)

Ou seja, com toda esta introdução vocês já estão a pensar, mas ela esqueceu-se do restaurante? Não, não. Só queria contextualizar a importância do Wagyu e do Kobe a nível internacional e porque é que é tão importante experimentar carne num restaurante no Japão. Atualmente há quem diga que esta é a melhor carne do mundo e eu devo confessar que, se não o é, anda lá muito perto. Há quem goste da carne com menos gordura, por isso podem optar por um Wagyu com um índice de B.M.S menor. Confesso que só consigo apreciar até ao nível 9. Já os níveis seguintes, onde praticamente se vê mais branco que vermelho, a experiência é reservada para gourmands hardcore.

O restaurante Garden Oriental de Osaka é conhecido por ser um dos top restaurantes da cidade. O edifício de estilo modernista rodeado de jardins meticulosamente tratados, foi desenhado por Kenzo Takekoshi. Inicialmente o edifício do Garden Oriental foi construído para ser o Osaka City Official Residence, sala oficial de receções de embaixadores e ministros. Hoje, o edifício transformou-se numa prestigiosa churrascaria de luxo, com salões para eventos e uma área específica para a cerimónia do chá.

O Garden Oriental foi-nos recomendado por amigos mas aparece nas listas das melhores churrascarias da região. Aquí, la lista do TripAdvisor, aparece no número 2 de Osaka. E não devemos esquecer que Osaka é a maior cidade do Japão depois de Tóquio, intitulada por François Simon, crítico gastronómico do Le Figaro, como a capital gastronómica do mundo.

Provámos um porção pequena de kobe com índice 8 que estava absolutamente divinal. É daquelas coisas que colocamos na boca e automaticamente precisamos fechar os olhos para desfrutar do sabor e textura de forma plena. Provámos também um peixe grelhado sobre um manto de algas wakame, um atum tataki e um t-bone de Wagyu. A sobremesa foi gelado matcha de chá verde sobre um espelho de essência de morangos japoneses.

Gostei especialmente do jardim zen que rodeia o restaurante, incluindo um lago cheio de carpas koy. Por alguma razão, lembrei-me da minha estada no Sofitel de Hanoi - Vietname, talvez pelas linhas coloniais do edifício e a elegância do lugar. De entre as árvores e os altos bambús vêem-se os arranha-ceús modernos de Osaka. Este é um oásis de verde no meio do betão da cidade...

Voltamos ao hotel pelas ruas da cidade de Osaka que estão tudo menos adormecidas. Na grande metrópole, sempre em saudável concorrência com Tóquio, há animação durante toda a noite, especialmente em na zona de Namba e em concreto em Dotombori. Nesta rua proliferam os bares de animação noturna, clubes e discotecas, os karaokes, os bordéis e as salas de pachinko - jogo em máquinas eletrónicas tipo pinball ou slot machines. Não nos deixamos tentar nem nos perdemos pela excentricidade noturna porque amanhã é dia de visitar Quioto e queremos estar bem frescos...