Quioto e o Bosque de Bambú
Todas as visitas a templos no Japão prometem uma experiência espiritual ao viajante. São espaços sagrados, onde a Natureza nos convida à introspecção e ao silêncio interior. Mas nesta visita não foi preciso um templo para convidar à meditação. O bairro de Arashiyama com os seus maravilhos bosques de bambú é um destes lugares mágicos, tão diferente a tudo o que conhecemos no Ocidente.
Viajámos a Quioto (Kyoto) para conhecer a cidade, as gentes, a cultura e a paisagem envolvente. O que não me esperava encontrar era este bosque de bambús que liga a cidade à zona do rio e oferece um espaço de reflexão e comunhão com a Natureza.
Quioto foi a capital imperial do Japão depois do período de Nara e até a capital ser entregue pelo último Samurai ao Imperador, passando a ser Tóquio. Aliás, Quio-to significa capital de capital, enquanto que To-Quio, significa capital do Oriente. Repararam que é a mesma palavra mas com as sílabas trocadas?
Os bambus do bosque de Arashiyama em Quioto são da espécie moso que cresce muito rápido (três metros por ano) atingindo muitos metros de altura. As diferentes tonalidades de verde e os raios de luz que se filtram entre as copas das árvores tornam este lugar num sítio mágico.
Fizémos uma parte do bosque em rickshaw, uma espécie de carrito com duas rodas puxado por um homem. Em Quioto, cidade universitária por excelência, os condutores de rickshaw são frequentemente estudantes universitários que trabalham em part-time para ganhar algum dinheiro adicional. Os condutores eram todos jovens e musculosos, o que é bastante estranho no Japão.
O bosque de bambús estava cheio de turistas, mas havia zonas onde foi possível disfrutá-lo em silêncio. Durante a viagem em rickshaw passámos pelo bonito bairro de Arashiama repleto de edifícios históricos e templos. O passeio terminou perto do templo Tenryu-ji. Continuámos a pé, pelos verdejantes caminhos, até chegar ao rio. Se estiver a planear ir a Quioto e quiser fazer uma reserva prévia do vosso passeio em rickshaw, recomendo a Ebisuya.
O Cortador de Bambú: o conto tradicional mais antigo do Japão.
Aproveitando este maravilhoso cenário não posso deixar de lembrar a mais antiga narrativa japonesa conhecida: o conto do cortador de bambú. Não sei se conhece, mas aqui fica a minha versão:
Era uma vez um senhor de idade chamado Taketori no Okina, cortador de bambú, que caminhava pelos bosques de Arashiyama. Um dia encontrou um misterioso e brilhante talo de bambu. Ao cortá-lo encontrou lá dentro uma criança do tamanho do seu polegar.
Taketori ficou imensamente feliz, porque nunca tinha podido ter filhos e agora os deuses enviavam-lhe uma bebé pequenina e bonita. Ele e sua esposa cuidaram-na e criaram-na como sua própria filha e chamaram-lhe Kaguya-hime que significa "princesa dos bambus flexíveis que espalha a luz".
A sorte do casal continuava abençoada. A partir desse momento, Taketori descobriu que sempre que cortava um talo de bambu, encontrava dentro uma pequena pepita de ouro e acabou por enriquecer.
Os anos passaram e Kaguya-hime cresceu tornando-se uma mulher de beleza extraordinária. Ao princípio Taketori tentou manter a filha protegida e longe do olhar dos estranhos, mas com o tempo a notícia da sua beleza começou a ganhar fama.
Acabaram por aparecer cinco príncipes para pedir a mão de Kaguya-hime em casamento. Kaguya-hime inventou tarefas impossíveis para os príncipes, concordando casar-se com quem trouxesse um objeto específico. Taketori disse aos cinco príncipes o que cada um devia trazer. Ao primeiro foi dito para trazer a bacia de pedra de Buda da Índia, ao segundo um ramo de jóias da ilha de Horai, ao terceiro o manto lendário do rato de fogo da China, ao quarto uma joia colorida do pescoço de um dragão, e ao príncipe final o búzio que nasceu de uma andorinha.
Percebendo que era uma tarefa impossível, o primeiro príncipe voltou com uma tigela, mas depois de perceber que a tigela não brilhava com a luz sagrada, Kaguya-hime percebeu a farsa. Da mesma forma, outros dois príncipes tentaram enganá-la com falsificações, mas também foram descobertos. O quarto desistiu depois de cruzar o caminho de uma tempestade, enquanto o último príncipe perdeu a vida ao tentar encontrar o búzio.
Depois destes infortúnios, o Imperador do Japão, Mikado, quiz conhecer a extraordinária beleza de Kaguya-hime. Acabaram por apaixonar-se e ele pediu-lhe em casamento. Apesar dos seus sentimentos, Kaguya-hime também rejeitou o pedido de casamento do Imperador, dizendo-lhe que era uma estrangeira, e portanto, não poderia morar no palácio.
Naquele verão, sempre que via a lua cheia, Kaguya-hime ficava com os olhos cheios de lágrimas. Os seus pais adotivos estavam preocupados, mas ela não era capaz de dizer-lhes o que a preocupava. O comportamento da jovem tornou-se cada vez mais errático até que um dia revelou a razão: ela não era deste mundo e deveria voltar ao seu povo na lua.
Com medo de perder a sua amada, e à medida que o dia de seu retorno se aproximava, o Imperador pôs muitos guardas para protegê-la do povo da lua, mas quando uma embaixada de "seres celestiais" chegou os guardas foram cegados por uma estranha luz.
Kaguya-hime disse que, embora ela amasse seus muitos amigos na Terra, teria que voltar com o povo da Lua, a sua verdadeira casa. A jovem escreveu cartas de despedida e deu ao Imperador uma pequena amostra do elixir da vida.
O Imperador ficou tão triste que resolveu procurar a sua amada. Preguntou ao seu samurai, qual era o lugar da montanha mais próximo ao céu. A resposta era a grande montanha de província de Suruga. O imperador ordenou a seus homens para levar uma carta até o cume da montanha e queimá-la, na esperança de que a sua mensagem chegasse à princesa distante. Os homens também foram ordenados a queimar o elixir da imortalidade, pois o imperador não queria viver para sempre sem a sua amada.
A lenda diz que a palavra imortalidade ( fushi ou fuji) tornou-se o nome da montanha, Monte Fuji e que o ideograma kanji para a montanha - significa "Montanha Abundante em guerreiros"- é devido ao fato de o exército do Imperador ter subido as encostas da montanha para queimar a carta e o elixir.
[Conto do cortador de bambú - adaptado do Wikipedia "The Tale of The Bamboo Cutter"]
さようなら Sayōnara, Adeus !
Créditos Fotográficos: Avenida Chique | Visit Japan
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