El Faro de Cádiz. Provavelmente, o melhor restaurante da cidade branca andaluza. Cádis, Espanha.
Restaurante obrigatório com meio século de tradição, situado no bairro “de la Viña” a poucos minutos a pé do centro histórico milenar da cidade de Cádis. Para os amantes da boa mesa andaluza este é um restaurante imperdível, que oferece uma variada escolha de pratos de peixe e marisco típico da zona, desde o “pescaíto frito” até às “tortillas de camarones de salinas”. Pelos diferentes salões do “El Faro de Cádiz” decorados com toque clássico ou alma moçárabe passam ilustres convidados de apelidos sonantes e monárquicos, políticos ou jogadores de futebol... o equivalente português seria o nosso “Solar dos Presuntos” em Lisboa. Hoje o Avenida Chique leva-o de passeio gastronómico por Cádis... olé!
Se anda è procura de sugestões gastronómicas para jantar como um rei na cidade andaluza de Cádis, está com sorte, acertou na "mouche"! Eu não encontrei este restaurante por acaso, vim recomendada por vários amigos e colegas de trabalho espanhol que conhecem a minha debilidade pela boa gastronomia.
Visitei o “Faro de Cádiz” num dia de semana, coincidindo com uma viagem de trabalho e habituada aos horários europeus, marquei o jantar para as 20:00. Qual não foi o meu espanto quando encontro o restaurante completamente vazio, apenas uma ou duas mesas com turistas franceses. Pensei cá para comigo, se este é o melhor e mais conhecido restaurante da cidade como é possível estar deserto? A resposta a esta pergunta chegou no final do meu jantar, precisamente quando estava a vestir o casaco e a preparar-me para uma caminhada de volta ao hotel. Eles e elas começavam a chegar. Eram grupos, grandes e pequenos, animados e felizes. Sim, os espanhóis continuam a jantar muito mais tarde que nós, mesmo a dias de semana, por isso, se quiser “animación” não se esqueça de marcar para depois das 22:00.
O restaurante está decorado com elementos típicos andaluzes, azulejos vidrados, peças de tauromaquia, fotografias de convidados ilustres, boas garrafas de vinho e naturalmente, as boas pernas de presunto “jamón” penduradas do teto. As mesas e cadeiras são clássicas, tão clássicas que poderiam estar na casa da minha tia-avó, mas eu creio que isso confere a certos restaurantes um ambiente acolhedor e uma classe atemporal. Os empregados vão vestidos em smoking branco e todo o serviço é feito segundo os acordes e os tempos da velha escola de hotelaria.
Em Espanha come-se mal, erro rotundo.
Existe um mito urbano em Portugal de que em Espanha se come mal. Isso é uma das frases mais estúpidas e que demostram um forte desconhecimento do que passa realmente na gastronomia espanhola. Primeiro, lembremo-nos que Espanha é o país do mundo que tem o maior número de restaurantes com estrelas Michelin. Segundo, em todos os países existem bons e maus restaurantes, é preciso é saber onde ir. Este “Faro de Cádiz” é um daqueles lugares que deveria estar sinalizado logo à entrada da cidade. Assim, o turista acidental não tem que se perder em antros típicos e ser ludibriado pela promessa de tapas e acepipes, quando pode vir diretamente ao epicentro da boa gastronomia. Tenho dito.
Em Espanha, em restaurantes clássicos existe ainda a divisão da refeição em dois tempos: “los primeros” y “los segundos”. “Os primeiros” corresponderiam aqui em Portugal às nossas entradas, às saladas e eventualmente a um prato de pasta. Também se pode trocar “el primero” por vários pratos de pequenas porções para partilhar “platos para compartir”. Depois, vem o “segundo”, normalmente um pedaço de peixe ou carne, sem mais. Ou seja, se quiser, à maneira portuguesa, arroz, batata e salada a acompanhar terá que pedir à parte. O “Faro de Cádiz” não escapa a esta regra.
Nesta minha visita e porque ia acompanhada de uma colega de trabalho também de bom comer, pedimos umas tapas, dois “primeros” e um “segundo”... As entradas foram um prato de “jamón” e umas “tortillitas de camarones”, uma espécie de pataniscas crocantes elaboradas com camarões minúsculos, muito típicas da gastronomia andaluza. Sabem um bocadinho a hóstias de camarão, mas vale a pena experimentar, nem que seja para dizer “eu já comi”. Estas “tortillitas” podem ser encontradas em toda a Andaluzia, especialmente em terras de marinheiros e diz a tradição que devem ser elaboradas com farinhas de grão de bico e trigo, salsa, cebola e os camarões ainda vivos... O “jamón” não precisa de apresentação, é um dos produtos mais caraterísticos de Espanha, e nesta região autónoma encontramos uma oferta de presunto inigualável. Se há coisa que os “nossos hermanos” sabem fazer bem é a produção e a curação do presunto. Este era um jamón pata negra “5 Jotas” cortado à faca, que se desfazia na boca e com o caraterístico sabor final a lembrar o sabão. Uma absoluta delícia.
De “primero” escolhemos o tártaro de atum de almadraba, outro produto típico da costa de Cádis, reinventado ao estilo japonês com wasabi, soja e pistachios crocantes e uma vieira gratinada. Tudo ótimo. Já de “segundo” decidimos provar o secreto ibérico grelhado, aproveitando a fama da carne de porco criada a bolota. Realmente, tudo delicioso. No final do jantar, por muito esforço que fizéssemos, já não havia espaço físico para provar a sobremesa, mas posso garantir que fiquei tentada pela carta de sobremesas “los postres”, que nesse dia incluía uma tarte de massa folhada com frutas frescas.
Peço desculpa que neste caso as fotografias não me ficaram especialmente bonitas, razão nº1: a luz era horrível para fotografar e como ia em “trabalho” não estava para explicar a razão pela qual queria fazer fotografias à comida... (sim, lá no meu trabalho “a sério” ninguém sabe que tenho um blogue). Razão nº 2: a apresentação dos pratos no “El Faro de Cádiz” é mais “burguesa” do que “artística”, e portanto as criações sibaritas não luzem bonitas na fotografia. Neste caso, aquilo que lhes falta em apresentação, cresce em sabor...
O restaurante está dividido em várias salas e privés e inclui um bar de tapas e “cañas” (cervejinhas) para degustar antes da refeição. Uma curiosidade, o couvert servido na mesa tratava-se de uma simples salada de batata cozida com cebola, coentros e azeite. Não sei se era da fome ou do cansaço de um dia de trabalho, mas aquela simples salada soube-me a um pedaço do céu. Às vezes a comida mais simples é a que melhor nos aconchega a alma.
Antes de terminar esta pequena crónica gastronómica, importa ainda referir que este é um restaurante caro para a sua categoria. Pagámos cerca de 120 euros, duas pessoas, sem vinho e sem sobremesa. Mas vale a pena experiência, a matéria prima é fresca e o serviço um mimo. E em Espanha a qualidade paga-se, e bem.
El Faro de Cádiz Calle San Felix 15, 11002 Cádis, Espanha Tel: +34 956 21 10 68
Página Web: http://www.elfarodecadiz.com
Créditos Fotográficos: Avenida Chique
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