Alta-gastronomia francesa no restaurante Casa Velha
A experiência da gastronomia francesa de fusão assinada pelo Chef Yannick Le Guichaoua no Casa Velha, um dos restaurantes mais elegantes na Quinta do Lago...
As noite de Outono no Algarve são uma surpresa. As temperaturas tanto podem descer de forma inesperada aos 1o graus exigindo tirar do armário aquele casaco quente ou manterem-se perto dos 18 graus oferecendo-nos uma velada com reminiscências de um longo Verão.
Hoje a noite é fria e ao sair do carro em direção ao restaurante Casa Velha, já é possível brincar com o halo de vapor que sai da boca enquanto falamos e apreciar a neblina misteriosa que emana dos campos de golf da Quinta do Lago. Chegar ao restaurante Casa Velha é todo um prazer. A vila foi completamente restaurada no ano passado (ler post aqui) e oferece uma experiência paisagística muito mediterrânea. O terraço de Verão encontra-se agora fechado e o serviço nos meses de Outono e Inverno é realizado nas salas interiores decoradas em tons cinza pastel e materiais quentes como a madeira ou os veludos das cortinas. A gerência do restaurante e a sua essência, cozinha francesa com influências de produtos algarvios, continuam a ser dirigidas pelo profissional e simpático casal francês, Céline e Chef Yannick Le Guichaoua.
Esperava-nos a descoberta da Carta de Outono-Inverno, uma celebração elegante de produtos de temporada sempre com aquele toque “je ne sais quoi” que carateriza o trabalho gastronómico do chef francês. Sentámo-nos numa mesa redonda junto à janela francesa com vista para o pátio exterior iluminado com velas. A sala interior está compartimentada em diferentes zonas com recurso à luz indireta e a tetos de diferentes alturas oferecendo zonas de intimidade e em geral, um ambiente muito elegante. Neste sábado à noite todas as mesas estavam ocupadas, o que atesta o carinho e o êxito que o Chef Yannick tem vindo a conquistar durante a última década. A mesa estava posta com elegância, linho da melhor qualidade, copos imaculados, a disposição de talheres, guardanapos, saleiros e decoração, como sempre, irrepreensível.
Destaco das várias opções para entradas o saboroso e clássico “Foie gras de Pato de França Mi-Cuit com Figos, Chutney de frutas da época e pimenta Voatsiperifery servido com pão brioche torrado” executado na perfeição, e a “Carne de Caranguejo real e caviar Osciètre, Espargos verde, Aipo, Laranja e Cebolinho, Creme fria de Marisco” um prato com uma apresentação espetacular e em boca oferece o equilíbrio entre o fresco dos citrinos e o salgado dos mariscos e do caviar. Não provei, mas fiquei com vontade de voltar para o fazer o “Salmão fumado em sashimi, com guacamole, citrinos, avruga, molho de cocktail com ouriço do mar e molho beterraba” e os “Miolos de Vieiras Assadas, fregola sarda com cepes, cecina e chutney de maçã verde com molho cremoso de lavagante”. Hum... só a descrição faz crescer água na boca, certo? Terei que voltar para resolver estes desejos gourmand insatisfeitos.
Para os pratos principais a nossa eleição recaiu no “Filete de Pregado Grelhado e Combava, com fricassé de Cepes com Ervas, um puré de Alcachofra e molho cremoso com tomilho limão” uma composição interessante que combina o peixe fresco com o guisado de cogumelos dando-lhe um cariz outonal e adulto. O prato de carne escolhido foi o “Tornedós de Lombo maturado Aberdeen Angus com Chanterelles e gnocchis, chalota confitada agridoce e molho com touriga” que me conquistou devido ao sabor intenso e adocicado das Chanterelles, uma variedade de cogumelos selvagens do norte da Europa com sabor e textura inigualável.
Quase sem espaço no estômago para a sobremesa, mas porque era dia de aniversário do meu marido, fomos surpreendidos com um bolo de chocolate elaborado pelo Chef com diferentes camadas de chocolate e crocante. Uma delícia!
O serviço comandado por Céline Le Guichaoua mostrou-se sempre solícito e profissional. Acompanhámos a nossa refeição com um tinto alentejano Herdade dos Grous 23 barricas (ler post aqui) que foi decantado com primor pelo Somellier. Como jantámos “à la carte” a conta final aproximou-se dos 120 euros por pessoa, pagos com vontade pois a experiência gastronómica roçou a perfeição. Porém, para quem prefira, existem dois menus de degustação, o Epicure com quatro pratos por 75 euros por pessoa (a maridagem de vinhos tem um custo adicional de 30 euros) ou o menu Signature composto por seis pratos à escolha do Chef segundo os produtos da temporada e a inspiração, por 96 euros por pessoa (mais 42 euros para a harmonização com vinhos).
O restaurante Casa Velha recomenda-se vivamente e sou da opinião de que é necessário aplaudir restaurantes e profissionais que trabalhem com esta qualidade e rigor há vários anos, pois são eles que fazem do Algarve e do nosso País, um destino turístico e gastronómico de excelência. E a pergunta incontornável que torna o silêncio ensurdecedor é óbvia... Porque é que o Casa Velha ainda não tem a tão desejada estrela Michelin? Senhores da Guia francesa, por favor, acordem ...
Resta-me ainda fazer uma menção especial aos quadros expostos nas paredes do Casa Velha, assinados pelo artista francês Pascal Magis. As composições abstratas obsequiam-nos com uma explosão de cor e energia e sobressaem em todo o seu esplendor da decoração pastel e sóbria do restaurante. Eu não conhecia a obra de Magis e fiquei impressionada com as narrativas dos pigmentos e o vigor que sobrevivem nas telas. Fica o meu agradecimento ao artista que infelizmente faleceu em 2011. A beleza única da tua alma viverá para sempre nos teus quadros.