Newport. Rainha das pequenas cidades costeiras norte-americanas.

Deixámos para trás Boston e fizémo-nos a caminho de Newport, em Rhode Island. É um percurso curto de 117km feito em autoestrada pela via I-93S. Optámos por realizar esta viagem durante a noite para evitar trânsito. Newport é uma pequena cidade costeira conhecida pelas grandes mansões que contam a história da “Gilded Age” (a Era Dourada) dos Estados Unidos.

Esta parte da América conta com mais de 375 anos de história e tornou-se um dos primeiros pontos de referência para a sociedade dos finais do pós-Guerra da Secessão e da reconstrução no final do século XIX e princípios do século XX. Newport era destino de Verão das famílias mais abastadas da época. Os Vanderbilt, os Wetmore ou os Berwind construíram aqui as suas mansões com os maiores luxos e extravagâncias que as fortunas da indústria do carvão, do caminho de ferro e da expansão económica podiam alcançar.

Hoje, a cidade divide-se entre a zona histórica da Avenida Bellevue com as grandiosas mansões e um centro urbano cheio de charme com casas de estilo vitoriano ou em madeira com um porche repleto de flores. Aqui, as pessoas são amáveis e dizem “Good Morning” e respira-se a tranquilidade própria de uma pequena cidade costeira.

Nos dias de sol, as esplanadas junto aos portos e embarcadeiros estão cheias, existem diversos restaurantes de marisco e pequenas lojinhas com lembranças e artesanato marítimo adorável. Eu vim por dois dias, mas poderia muito bem ficar aqui por dois meses, pois há muitas atividades para realizar e sítios por conhecer. Aliás, prometi-me secretamente que voltarei um dia a Newport para passar uma boa temporada. Esta cidade tem tudo o que me faz falta para passar umas férias de sonho: mar, praias de areia fina, tranquilidade e ao mesmo tempo um rebuliço controlado de cidade pequena, arquitetura de contos de fadas, excelentes restaurantes, marisco.... muito marisco, natureza, história, arte e cultura.

Newport é um destino de férias histórico para as grandes famílias americanas e volta a estar de moda. Vários media e revistas especializadas (por exemplo: Conde Nast Traveler, 2014; Coastal Living, 2013; Usa Today, 2013; Fodor’s Travel, 2015; National Geographic, 2014; Abc News / Good Morning America, 2015; Travelnerd.com, 2013;) têm vindo a dedicar reportagens e votaram Newport como uma das pequenas cidades costeiras "mais adoráveis" dos Estados Unidos da América.

Newport pertence ao exclusivo grupo de nove cidades costeiras (Barrington, Bristol, Jamestown, Little Compton, Middletown, Portsmouth, Tiverton e Warren) que conformam a Nova Inglaterra e oferecem experiências turísticas de altíssima qualidade: há quilómetros e quilómetros de praias praticamente desertas, caminhos e trilhos com vistas cénicas, lojinhas com personalidade, tradição náutica, campos de ténis e de golfe, restaurantes e hotéis de charme e diversos eventos musicais.

Ficámos alojados num hotel histórico, o Vanderbildt Grace, onde também se situa um dos mais referenciados restaurantes da cidade, o Muse, com oferta gastronóamica assinada pelo chef Jacob Ennis. É um hotel de arquitetura vitoriana edificado em 1909 por Alfred Gwynne Vanderbilt. O Vanderbilt Grace é uma das poucas casas privadas da época Dourada, totalmente restaurada, que funciona hoje como um pequeno boutique hotel de luxo. O edifício recoberto de tijolos vermelhos históricos situa-se no centro histórico da cidade e fica apenas a 7 minutos a pé dos principais embarcadeiros turísticos, onde se pode experienciar a boa cozinha da Nova Inglaterra.

No Vanderbilt Grace parece que voltamos atrás no tempo, à era do ócio e da grandiosidade do princípio século XX. Adorei os jardins, o terraço com vista para a cidade e o tratamento atento do “staff”. Despertei de manhã com o idílico som dos sinos da Trinity Church e uma enorme vontade de descobrir a cidade. Foi uma pena deixar aquela cama tão confortável, com um colchão cheio de camadas fofinhas e roupa de cama acetinada... mas consegui resistir e lá me fiz a caminho das grandes mansões. No dia seguinte, talvez devido ao “jet lag”, levantei-me outra vez cedíssimo e fui, às 6 da manhã, dar um mergulho na piscina interior aquecida. Os pequeno-almoços são também gloriosos, servidos num deck envidraçado com vista para o jardim.

Uma das atividades a realizar obrigatoriamente em Newport é a visita atenta às incríveis mansões da “Era Dourada”: The Elms, The Breakers, The Marble House, The Hunter House, The Chateau-sur-Mer, etc.. Não pense, nem por um segundo, que esta é uma experiência aborrecida, reservada apenas para quem goste de “ver museus”. Garanto-lhe que a beleza e a opulência destas mansões oferecem uma experiência inesquecível. Há milhares de histórias interessantes por detrás de cada mansão e de cada detalhe arquitetónico. Por isso, é possível realizar vários tipos de visita, umas mais leves e generalistas, outras mais aprofundadas e temáticas.

Uma das visitas mais interessantes é o “Servants Life tour” onde se pode conhecer como viviam os empregados destas mansões. Na maioria das casas, existe uma zona privada dedicada ao “staff” e é possível conhecer a vida desses homens e mulheres invisíveis que dedicaram toda a sua existência ao serviço das grandes famílias. Se é fã de séries como “Downton Abbey” ou da clássica “Upstairs, Downstairs” vai delirar com estes cenários reais. Hoje a maior parte das mansões é gerida e mantida por uma sociedade de preservação local, “The Preservation Society of Newport County”. Os bilhetes podem ser adquiridos no local ou online através da página http://www.newportmansions.org/plan-a-visit/operating-schedule.

As mansões de Newport foram cenário do Grande Gatsby e de mirabolantes festas nos princípios do século XX. Os tempos loucos da década de 20 conheceram aqui o seu momento álgido. As primeiras famílias a enriquecerem com os negócios do caminho de ferro e a banca construíram aqui as suas mansões junto ao mar. Na aristocrática Avenida de Bellevue alinham-se dezenas de mansões extraordinárias, jardins maravilhosos, entradas e portões imponentes. Atualmente a “The Preservation Society” gere apenas uma pequena parte das grandes mansões e oferece cerca de 10 mansões e jardins abertos ao público. Se tiver pouco tempo, escolha pelo menos as mais impressionantes: The Elms, The Breakers e The Marble House. Existe um bilhete que permite aceder a estas três mansões e com um desconto interessante. Lembre-se que necessitará pelo menos uma hora em cada mansão para uma visita generalista. Reserve mais tempo dependendo da sua sede de conhecimento. Existem visitas guiadas com um áudio-guia e em alguns sítios um tablet, que permite literalmente, conhecer a história de cada sala, peça de mobiliário, escultura ou quadro. The Elms, The Breakers e The Marble House estão abertas durante todo o ano, mas as restantes mansões e jardins só abrem para a temporada de Primavera e Verão. Consulte as datas de abertura e programe a sua viagem, através da página http://www.newportmansions.org

Eu visitei Newport em Abril e só pude visitar as mansões The Elms, The Breakers e The Marble House. (Brevemente publicarei um post dedicado a estas mansões com fotografias dos maravilhosos interiores)

Newport tem a magia de uma cidade portuária, enfeitiçada pela brisa salgada e pelos sons dos mastros dos veleiros ancorados. À noite, a luz do farol oferece um ponto de referência essencial para os barcos que navegam as águas da baía de Narragansett. Esta zona atraiu há várias décadas, famílias irlandesas e portuguesas. É curioso verificar como em alguns restaurantes encontramos referências gastronómicas lusas e se prestarmos atenção, encontramos vários portugueses de segunda geração. Num dos mais famosos restaurantes-cafés para pequeno-almoço, o Corner Cafe (110 Broadway, Newport, RI 02840) encontramos pratos de inspiração portuguesa e a simpatia do dono, filho de emigrantes portugueses.

Existem vários portos e embarcadeiros transformados em espaços de lazer e restauração. Os mais conhecidos são o Bannister’s e o Bowen’s Wharf. Encontrará restaurantes típicos com a boa cozinha da Nova Inglaterra, que inclui o famoso “Clam’s Chowder” uma sopa cremosa servida em pão ou em tigela com bocadinhos de peixe, marisco e batata cozida. Nesta zona dos Estados Unidos a lagosta, as pernas de caranguejo e as ostras têm um excelente preço e são cozinhadas com mestria. Durante a minha visita estava a decorrer a “Newport Restaurant Week, 2016” onde a maior parte dos restaurantes de topo oferecem um menu de degustação a preços muito acessíveis. A minha viagem coincidiu também com o “Spring Break”, por isso a cidade estava cheia de jovens universitários que enchiam de vida e alegria os bares noturnos de “downtown”.

Outra das atividades que não pode perder é descobrir a cénica estrada de “Ocean Drive” que como o nome indica, circundeia a costa desde o “Newport Harbor” na cidade, passando por belas paisagens marítimas e pontos de interesse como o “Fort Adams”, a enseada de “Castle Hill” com o seu enigmático hotel, o ventoso “Brenton Point” onde encontramos um monumento dedicado a Portugal e à nossa era das Descobertas, o “Portuguese Discovery Monument”, belas e misteriosas mansões com vista para a “Gooseberry Island”, até entroncar com a “Bellevue Avenue” e o começo do “Cliff Walk”, um percurso a pé entre falésias, as mansões históricas de Newport e a força do Oceano Atlântico.

Recomendo VIVAMENTE uma visita à cidade de Newport, especialmente para quem procura uma cenário natural perfeito para uma escapada romântica ou até uma lua de mel. A cidade tem uma beleza especial, enriquecida pela sua história, cultura e arte. Quem viaja de Portugal, pode voar com a SATA até ao aeroporto de Boston e depois conduzir os 107 quilómetros em carro de aluguer. Vale mesmo a pena! Newport, é um segredo turístico a redescobrir.

Agradecimentos: Andrea McHugh e Discover Newport por me terem ajudado a organizar a minha visita de imprensa.

Aqui ficam algumas fotografias que testemunham a beleza e o charme de Newport.