Restaurante Arcadas no Quinta das Lágrimas. Eis o melhor gourmet de Coimbra.
A celebração de um sério amor à alta gastronomia, no hotel mais romântico de Portugal. Hoje vamos conhecer a cozinha de autor do Chef Vitor Dias, que faz as delícias dos comensais mais exigentes no restaurante gourmet "Arcadas", no histórico Hotel Quinta das Lágrimas, em Coimbra.
Para quem vem de fora e não está alojado no Hotel Quinta das Lágrimas, a entrada pela alameda empedrada e recoberta de um teto espesso de arvoredo e iluminação difusa é já, per si, uma experiência digna de um conto de fadas. Ao fundo da alameda, entre ramos de árvores centenárias sorri-nos o leão das escadarias do pequeno palácio da Quinta das Lágrimas, datado do século XIX, e que agora alberga um hotel de charme de 4 estrelas superior, gerido pela cadeia Thema Hotel & Resorts. [ler post aqui]
O restaurante Arcadas (antigo Arcadas da Capela) fica no piso térreo da Casa Senhorial. Como o próprio nome sugere, a sua arquitetura é preenchida por arcos abertos ao mágico jardim e às fontes de repuxo. O cocktail de pré-jantar pode ser tomado no bar acolhedor de inspiração britânica, enquanto se trocam alguns dedos de conversa sobre as visitas à histórica universidade e às zonas antigas da cidade de Coimbra. Foi lá que esperámos pelo meu pai, que se juntou a nós passado alguns minutos, para explorarmos em conjunto os sabores e as sensações da cozinha do Chef Vitor Dias.
Uma corretíssima maitre d’ deu-nos as boas vindas e acompanhou-nos até à nossa mesa. O restaurante é composto por três salas, duas interligadas com decoração chique em tons de branco e ocre e pouco sobrecarregada, e uma outra sala junto à cozinha, pensada para grupos. Ficámos na ala junto às janelas e às históricas arcadas de pedra. A mesa está bem disposta, ao estilo clássico com bonitos talheres de prata, copos de cristal, toalha e guardanapos de linho. Como éramos três, ficámos numa mesa redonda, mas existem também várias mesas quadradas pensadas para jantares românticos a dois.
Cozinha de autor, produtos da região.
Um carrinho de champanhe francês chegou à nossa mesa para abrir o desfile sibarita com pompa e circunstância. Com ele chegou ainda a carta do Chef Vitor Dias, que reúne propostas criativas de alta gastronomia, dando preferência aos produtos da região. Para além dos ingredientes de mercado e de produção regional, na carta promete-se a utilização de ervas aromáticas do jardim de cheiros da Quinta, as laranjas, os limões e os abacates do pomar e ainda as framboesas e os agriões que crescem livres na Quinta das Lágrimas.
A carta desse dia estava composta por três menus de degustação sazonais: o “Menu de Cogumelos” (50 euros por pessoa, excluindo vinhos), o “Menu de Pedro e Inês” (75 euros por pessoa, excluindo vinhos), e ainda o “Menu de Degustação” (95 euros por pessoa, excluindo vinhos), e ainda uma boa seleção de pratos “à la carte”. Escolhemos dois menus de degustação e eu pedi “à la carte” para assim poder provar vários pratos e poder escrever este artigo com maior propriedade.
Duas sobremesas, uma para senhoras, outra para cavalheiros.
O “Menu Pedro e Inês” é composto de três pratos, sorbet e sobremesa e cafés e petit-fours. Depois do amuse-bouche que não foi especialmente promissor, o desfile de pratos iniciou-se com um “Camarão marinado em laranja, vinagrete de percebes e compota de ananás”. Sabores frescos numa combinação leve e aromática, com a compota agridoce do ananás a emprestar um toque exótico à salada.
Seguiu-se o “Ovo de Galinha “Mollet” em Vichyssoise de Lavagante”, um prato muito bem conseguido e que toda a mesa quis repetir.
O prato principal foi um “Dueto de Vitela, com molho de tutano e Porto LBV, maçã de Alcobaça”. A carne veio cozinhada na perfeição, tenra e suculenta. A redução do molho de tutano com o porto foi absolutamente grandiosa.
Antes de chegar a sobremesa, fez-se um compasso de pausa com um sorbet de limão caseiro. As sobremesas do “Menu Pedro e Inês” são diferentes segundo se sirvam a uma senhora ou a um senhor. Como é um menu pensado para provar a dois, pretende-se que neste adágio doce, os enamorados troquem colheres e experiências. Assim, se é um gentleman receberá a sobremesa “Pedro” composta por “Leite creme da Quinta das Lágrimas com gelado de tomilho e telha de papoila”. Se é uma Lady, será premiada com a criação “Inês” que consiste numa “Floresta negra” desconstruída, com fofo chocolate negro e intensas cerejas confitadas em vinho do porto com gelado de canela. Ambas uma delícia.
Deixem-me também falar dos meus pratos, escolhidos a dedo. Primeiro degustei uma perfumada e rica “Sopa de peixe e marisco da nossa costa” uma receita da família da Quinta das Lágrimas. Depois provei, aquele que foi o grande apogeu sibarita da noite e que recebeu o prémio ao melhor prato “uma Barriga de Leitão confitada, cabidela de batata e molho de laranja algarvia”. Que sensação! Todos os sabores casavam na boca como um fogo de artifício. A barriga de leitão terá estado mais de dois dias a cozer em baixa temperatura, para apresentar a gordura quase rarefata, a carne tenríssima e a pele com um crocante imbatível. Este é um prato que recomendo e que vale a pena a viagem, de qualquer ponto do país, para prová-lo e nunca mais esquecê-lo!
A carta de vinhos do Arcadas é quase uma bíblia. Estamos perante uma das maiores coleções de vinhos do centro do país, com mais de 750 referências de vinhos nacionais e internacionais. As folhas de pergaminho vêm apresentadas num livro em pele bordeaux, organizado por regiões. Para acompanhar as nossas escolhas gastronómicas, e porque essa noite preferimos tomar branco, o sommelier sugeriu-nos o vinho “Pedro e Inês”, um branco encorpado do Dão, de 2010. No final do jantar, tive até a oportunidade de visitar a cave de vinhos onde se guardam (alguns bem raros) tesouros de Bacchus.