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Quinta de Casaldronho – enoturismo de excelência entre vinhedos e socalcos

Levo-a de passeio a uma quinta no Douro que pertenceu a Egas Moniz, e é hoje palco de um enoturismo de qualidade, renovado pela arquitetura contemporânea em perfeita comunhão com os edifícios do século XIX.

Hoje está a chover. Quando visitei a Quinta de Casaldronho Wine Hotel também estava a chover. Um chuva de Outono, miudinha, trazida por nuvens cinzentas e uma neblina misteriosa que se agarrava ao rio, às suas margens e às suas gentes. A Quinta de Casaldronho, fica situada no coração do Douro no concelho de Lamego a cerca de 350m de altitude, concretamente em Valdigem e oferece uma vista panorâmica sobre o rio e o vale de Peso da Régua. Desde que visitei a Quinta de Casaldronho já o rio deve ter corrido algumas vezes. No entanto, conservo viva na memória as boas impressões que este pequeno boutique hotel de quatro estrelas, com pouco mais de 20 quartos, me causaram.

Esta foi a minha primeira paragem numa semana de visitas aos diferentes espaços de alojamento e hotéis de enoturismo que o Douro tem para oferecer. A entrada para a Quinta de Casaldronho não poderia ser mais autêntica. Uma estrada íngreme, com partes empedradas e outras em gravilha, conduzem-nos labirinticamente pelos vinhedos. Vamos descendo a encosta, seguindo o fio de Ariadne, admirando os socalcos feitos à mão pela força bruta e o engenho do homem, muros em xisto que sujeitam terras e tesouros, as raízes das vinhas e do bom vinho.

A quinta que pertenceu a D. Egas Moniz

Depois de uma curva apertada, surge o edifício do hotel, linhas modernas que recuperam o xisto e a madeira e fazem lembrar, vagamente, os contornos de um paquete a pairar sobre a imensidão da paisagem do rio e o vale do Peso da Régua. A construção nova nasceu num lugar histórico, na antiga quinta e manteve intacta a pequena capela do princípio do século XIX. Este boutique hotel nasceu a finais de Julho de 2014, do sonho dos dois irmãos, Vítor e Ariana, de recuperar a memória histórica familiar e partilhar a quinta com um público apreciador. A Quinta de Casaldronho data da primeira fase na demarcação da região para a produção de vinho do Porto. Foi pertença de Egas Moniz, tutor do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, tendo posteriormente sido propriedade de D. Sofia. No ano de 1885, Alódio Teixeira Santos adquiriu esta propriedade que se mantém na família há quatro gerações.

Aqui pode-se experienciar o verdadeiro Douro, com grandes caminhadas pelos vinhedos, a descoberta das diferentes castas, observação de aves e o contacto permanente com o espelho sinuoso do rio. Nas quintas vizinhas, a Quinta Dona Matilde [http://www.donamatilde.pt] e a Quinta dos Poços [http://www.quintadospocos.pt], os hóspedes podem desfrutar de atividades vínicas como o pisar tradicional das uvas e a prova comentada de diferentes lotes. Para o ano, estas atividades já poderão ser realizadas na própria Quinta de Casaldronho, que está também em processo de lançar o seu próprio rótulo de vinho. Atualmente a produção ronda as 100 pipas, das quais 30 são destinadas ao Vinho do Porto.

E porque os hotéis não são feitos só de pedra, mas também do sorriso das suas gentes, deixem-me falar de Patrícia Ferreira. A jovem rececionista recebeu-nos com tal hospitalidade e calor humano, que até hoje, a grande impressão que trago de Casaldronho é o sorriso da Sra. Ferreira. Curioso apelido, carregado de dimensão histórica, em especial naquela parte do Douro. “Infelizmente não tenho relação com A Ferreirinha, quem me dera, é só coincidência”, explica divertida, por detrás do balcão da receção, enquanto me serve um espumante de boas-vindas.

Janelas rasgadas para a contemplação da beleza dos vinhedos

No interior do edifício domina a estoicidade do xisto e da lousa. O teto embelezado com painéis de cortiça aporta um pouco de calor ao minimalismo da pedra. Logo à entrada temos um antigo lagar, à direita, um coquete restaurante com capacidade máxima para 50 pessoas e decoração simples e funcional, à esquerda, passando a receção e os olhos brilhantes da Sra. Ferreira, aguarda-nos um bar com sofás confortáveis, lareira e janelas rasgadas que oferecem a contemplação pacífica da beleza dos vinhedos.

O restaurante "Dona Ilda" - o nome é um doce tributo à memória da avó da família- , está aberto apenas para pequeno-almoço e para jantar, oferecendo a diário um menu de cozinha de mercado com preço de 25 euros por pessoa. [Pode consultar um exemplo do menú nas fotografias da galeria] No bar existe uma boa seleção de Vinhos do porto e podem-se degustar snacks e tostas durante todo o dia. No topo do edifício existe uma piscina infinito, onde posso imaginar-me a dar uns bons mergulhos em dias de calor ou simplesmente a apanhar o sol e o ar puro do Douro Vinhateiro.

Concerto de chuva

Como estava a chover, aproveitei para recolher-me na intimidade do quarto. As suites e os quartos obedecem à linha vanguardista contemporânea, com boas áreas e grandes janelas. A decoração é simples, quase monástica, mas o suficiente confortável para nos sentirmos em casa. Nas janelas existem umas portas-batentes em madeira e ferro que formam curiosos jogos de luz e sombra com o exterior. Aproveitei o concerto da chuva para ficar em paz num cadeirão, a apreciar a neblina que se instalava sinuosamente nos vinhedos. Uma paz e silêncio únicos, quebrados apenas, pelo passar discreto e longínquo do comboio. Dormi extraordinariamente bem, as camas são confortáveis e com boas dimensões para duas pessoas que gostam de dormir com espaço. As casas de banho estão equipadas com secador de cabelo e "amenities" de qualidade com cheirinho a flor de laranjeira - Damana Neroli - .

O pequeno-almoço foi agradável, de tipo caseiro. Uma tábua de lousa com queijos e enchidos regionais, pão rústico e um saboroso bolo de laranja e mel fizeram a minha manhã feliz. Senti falta, especialmente devido às condições adversas do tempo, da possibilidade de um espaço de tratamentos ou de spa, mas parece ser que está pensado, para breve, uma suite de tratamentos e massagens. Terei, portanto, que voltar.

Um passeio pelos socalcos

Felizmente não choveu durante todo o tempo. De manhã saímos a caminhar pelos socalcos e caminhos, para observar de perto as castas das uvas, o retorcido das vinhas velhas, os pomares, os olivais, as nascentes e os tanques de água. Não deixam de me impressionar os muros em xisto nos vertiginosos declives. Só é possível sentir um respeito infindável pelos braços de quem, durante tantas décadas, construiu esse monumento humano e natural. E que depois, na época das vindimas, trocava as pedras por cestos. Homens com mais de sessenta quilos de uvas às costas enquanto as mulheres e crianças apanhavam os cachos, durante longas jornadas de oito a doze horas. Claro que hoje a vindima está mais facilitada e as condições de trabalho mudaram, tornando a apanha mais leve. No entanto, não deixa de ser notável a forma como as populações durienses subsistiram e lograram fazer os néctares de ontem e de hoje.

A Quinta de Casaldronho Wine Hotel está situada numa propriedade com 24 hectares, das quais 15 estão dedicadas à vinha. Esta opção de enoturismo é altamente recomendável para quem deseje passar um fim de semana romântico ou dias dedicados ao vinho. Oferece-nos um tesouro visual fascinante, num enquadramento geográfico repleto de serenidade e perto de várias outras quintas e produtores sobejamente conhecidos. Para quem tenha pensado uma visita gastronómica ao restaurante DOC, a Quinta de Casaldronho é também um boa opção para pernoitar, devido à proximidade ao restaurante. Se eu voltaria? Com certeza!

Para mais informação e reservas:

Localização

Quinta de Casaldronho Wine Hotel ****

EN 313 Valdigem

5100-829 Lamego | DOURO – Portugal

Telefone: (+351) 254 318 331

Fax: (+351) 254 318 333

Coordenadas de GPS: N 41° 8`39.88"N W 7°45`18.12"W

Sobre o Blog

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