Arte Náutica. Dona Ofélia e o Perfume do Caril.
Existe na ponta este da Praia de Armação de Pêra, um restaurante em madeira junto ao mar. Por ali, perfuma-se a brisa marinha, há já mais de treze anos, com um aromático e lendário “caril de camarão”. Não sei se será o aveludado do leite de coco, a textura do molho engrossado com cebola picadinha e outros legumes, a firmeza rosa dos camarões, o vibrante frescor dos coentros ou a mistura de especiarias perfumadas, que emprestam uma personalidade única a esta iguaria. Certamente, mais do que qualquer ingrediente, o segredo está na mão treinada de Dona Ofélia, a Chef, que adiciona emoção e uma pitada de tradição das suas raízes goesas e moçambicanas à preparação do caril. Fui conhecer a mulher por detrás do feitiço gastronómico do lendário “caril de camarão” do Arte Náutica Restaurante. Venha comigo.
Pensamos que vamos entrar num simples restaurante de praia. O edifício é igual a tantos outros, revestido a madeira, com uma passadeira em tabuinhas que circunda o areal. Porém, a decoração interior que mistura elementos típicos do mar do norte e o requinte do terraço envidraçado, revelam-nos que estamos num restaurante de praia com glamour. Aqui não há cadeiras de plástico ou toalhinhas de papel. Estamos numa pseudo-cabana com copos de cristal, pratos em porcelana, guardanapos engomados, mãos e olhos treinados pelas cinco estrelas do luxo do Vila Vita Parc.
No Arte Náutica, como seria óbvio, as especialidades de cozinha atlântica dominam a carta: peixes selvagens, mariscos e guisados com sabores profundos. Para entrada pode escolher entre as “Amêijoas à Bulhão Pato”, um “Lingueirão à Provençal”, os “Carabineiros ou os Camarões-tigre grelhados” entre outras iguarias. Já para os pratos principais aguardam-nos os peixes fresquíssimos pescados à linha, e especialidades como o “Arroz de tamboril”, a “Cataplana”, a “Massa de Peixe”, a “Açorda” e o mítico “Caril de Camarão”. O departamento de vinhos está bem recheado, considerando que estamos num restaurante de praia. Para além de boas referências de norte a sul de Portugal, encontramos uma variedade de vinhos das herdades do grupo Vila Vita: desde as terras alentejanas da Herdade dos Grous, até aos refrescantes Riesling alemães de Am Nil.
As mesas de madeira enceradas estão decoradas com rosmaninho fresco, potes com piri-piri, flor de sal e pimenta, azeites aromatizados e vinagres. A cénica apresentação das singelas entradas algarvias, como a pasta de atum, as cenouras ensalsadas, as fiéis azeitonas e a tábua de pães alentejanos, parece um quadro francês. Coisas simples, sabores autênticos, ramalhetes de cores e sensações para os olhos, as narinas e para as papilas gustativas. Pedimos uns “camarões-tigre grelhados”, uma posta de cherne fresquíssimo e naturalmente, o meu favorito, o caril de camarão.
Basta provar uma colher deste molho de caril para viajar imediatamente às terras de Goa e aos seus mercados buliçosos, repletos de cor, especiarias e saris esvoaçantes. Dona Ofélia possui o talento de condensar no seu molho os espíritos dos legumes e dos camarões avivados pelos pós das especiarias. Um caril que nos apaixona até à loucura dos sentidos.
Com a alma e o estômago satisfeitos, sento-me no terraço, os pensamentos a espraiarem-se no horizonte atlântico, a brisa marinha a refrescar-me o rosto. Dona Ofélia da Silva vem sentar-se ao pé de mim. As mãos calejadas e a pele dos braços com queimaduras revelam os longos anos atrás do fogão. Um sorriso franco convida à conversa. Quando terá despertado a sua paixão pela cozinha? “Vem desde menina”, responde. “Com a minha mãe aprendi as receitas moçambicanas e com os meus avós os pratos goeses.”
O primeiro contato profissional com a cozinha, foi durante um estágio no Grande Hotel de Lourenço Marques, em Moçambique. Estávamos no ano de 1977 e os desígnios políticos e sociais de então, levaram Ofélia e a sua família a migrar para Portugal. Com apenas 18 anos, Ofélia encontra-se numa realidade completamente diferente. O poiso escolhido pela família é Portalegre e aí tem que reinventar-se. Anos depois, abre com esforço, o Dona Ofélia, um restaurante de peixe em Quarteira. O projeto durou três anos, mas acabou por não vingar. Ofélia não desanima, levanta-se e vai cozinhar para um restaurante de praia, relativamente desconhecido na época: O Gigi. Por ali esteve, durante 16 anos, ao timão da cozinha daquele que se transformou num dos mais famosos restaurantes do Algarve, ponto de encontro para empresários e políticos veraneantes, futebolistas e celebridades internacionais. Os reconfortantes guisados de peixe e os camarões grelhados moçambicanos de Dona Ofélia fazem furor. Depois veio o convite do grupo Vila Vita Parc. Hoje, a Chef Dona Ofélia soma treze anos ao comando da cozinha do Arte Náutica.
Do seu receituário, Dona Ofélia destaca o peixe ao sal com crosta interior de ervas, os camarões-tigre moçambicanos e o caril de camarão. Leva-me pela mão à cozinha e mostra-me a receita do caril “é só para fazeres em casa, o resto é segredo”, segreda-me com um piscar de olhos. Para a câmara prepara uns camarões-tigre grelhados. Faz-lhes um corte longitudinal perfeito. Separa o coral da tripita e das impurezas. Rega-os com bom azeite e sal grosso. Põe os camarões na grelha quente, com a parte da casca para baixo. Depois, dá-lhes a volta por breves instantes. Finaliza-os com um molho de manteiga aromatizado com alho picadinho, sumo de limão, piri-piri e amor q.b.. Simples. Autêntico. Delicioso.
O restaurante Arte Náutica está aberto há mais de 15 anos em Armação de Pêra e ocupa, por mérito próprio, uma posição firme no Top dos Melhores Restaurantes de Praia no Algarve. Uma visita ineludível, para almoço ou para jantar. De Verão ou de Inverno.
Mais Informação:
Arte Náutica Beach Restaurant
Telefone: (+351) 282 314 875
Endereço: Rua da Praia, (ao fundo)
8365-114 Armação de Pêra
E-mail: fb@vilavitaparc.com
Página de Facebook: https://www.facebook.com/ArteNauticaBeachRestaurant