Novo requinte no Casa Velha da Quinta do Lago.
O mítico restaurante Casa Velha refloresceu na Quinta do Lago. O espaço gastronómico de cozinha francesa reabriu portas há poucos dias e apresenta agora umas instalações elegantes de caráter mediterrâneo, com uma carta renovada pelo Chef Yannick Guichaoua e o irrepreensível serviço de mesa orquestrado por Céline Guichaoua e a sua equipa.
A vila que aloja o restaurante Casa Velha, data da primeira metade do século XX e é um dos marcos históricos da Quinta do Lago. Durante as várias décadas, o espaço sofreu alterações arquitectónicas, adaptando-se aos tempos e às modas gastronómicas. Da traça original resta muito pouco, apenas a fonte em pedra de estilo mourisco que ainda cantarola frescura no pátio interior e as fotografias no baú das lembranças daqueles que foram acompanhando as metamorfoses da fachada ao longo do tempo.No passado, este espaço foi palco de festas intermináveis. Aqui funcionou uma das mais badaladas discotecas, “O Pátio”, na década de 90. Hoje, encontramos um recanto idílico, que faz lembrar as vilas da Riviera francesa. Este ano, o grupo Quinta do Lago investiu alguns milhões na remodelação profunda da antiga Casa Velha, e nasceram não um, mas dois espaços diferenciados: o Bovino, uma steakhouse premium [ver post] e o recanto de cozinha francesa, que mantém o nome original, o Casa Velha.
Antiga fachada do restaurante Casa Velha (copyright: Grupo Andre Jordan)
Há muitos anos que o casal de gastrónomos Chef Yannick Guichaoua e a Maître D’ Céline Guichaoua esperavam por uma reforma que viesse materializar os seus sonhos. Através da obra do gabinete Essencia Architects e da decoradora Sofia Andrez, o Casa Velha transformou-se nesse sonho mediterrâneo com um salão interior decorado com toque nórdico e um terraço com varandas em ferro forjado onde se pode desfrutar de um cénico pôr-do-sol com vista para o lago, o topo dos pinheiros mansos e ao fundo, a calma do Atlântico.
Chegámos por volta das 20:00. Um “bellboy” encaminha-nos para o estacionamento privado e aparece, segundos depois, com um buggy para escoltar-nos à entrada do restaurante. A distância é curta e o passeio pelo arvoredo é bastante agradável, porém os sapatos altos agradecem o transporte de luxo.
Entramos pela ala da piscina-infinito rodeada de camas balinesas em azul marinho. Neste espaço servem-se cocktails antes do jantar. Durante o dia transforma-se num exclusivo “pool club” desenhado só para adultos, onde se cultiva o silêncio e o requinte. Desde o espaço da piscina é possível aceder ao steakhouse Bovino [ler post] e ao terraço da Casa Velha, que está resguardado por dois opulentos jarrões franceses de “La Poterie de Madeleine, Anduze Gard” que transbordam flores provençais.
A piscina infinito faz a honra da entrada comúm do Bovino e do Casa Velha.
Durante o dia este espaço transforma-se num "pool club" só para adultos.
Durante os meses de Verão, aqui também se pode desfrutar de um brunch muito exclusivo.
(Só aos domingos, 48 Euros por pessoa)
O terraço mediterrâneo veste-se para jantar, de uma gala informal com toalhas de linho engomadas, finas porcelanas e cintilantes copos de cristal. Nesta altura do dia, a patine do ocaso vai deixando pinceladas douradas nos contornos das ciprestes e das oliveiras centenárias. No ar misturam-se os perfumes dos pinheiros mansos, uma discreta brisa marítima e as jardineiras de alecrim, estragão e lavanda. Madame Céline, uma francesa elegante e discreta faz as honras de Maitre D' e recebe-nos com um sorriso afável: “Bonsoir, Bienvenue à Casa Velha. Votre table est prête.”
Sentámo-nos junto à balaustrada de ferro, os olhos a perderem-se no horizonte verde entrecortado por cúpulas e torreões de vilas milionárias. Divisa-se o jato da fonte do lago que transpira uma ligeira neblina nesta noite quente de Julho. Com o copo de champanhe chega também a carta azul da Casa Velha e uma tabuinha de porcelana branca com os “mise en bouche”: tâmaras enroladas com bacon, “tartines” de alho francês e anchovas, mini sanduíches de rabanete e profiteroles de queijo.
As iguarias do cardápio do Chef Guichaoua podem ser degustadas “à la carte” ou através de dois menus à escolha: o Signature, uma seleção de quatro pratos em pequenas porções (69 euros por pessoa, sem bebidas, ou 98 euros com harmonização de vinhos) ou o menu Epicure, composto por seis pratos (89 euros por pessoa, sem bebidas, ou 131 euros com harmonização de vinhos).
Do capítulo das entradas francesas escolhemos a “Carne de caranguejo com Caviar de Osciètre, espargos verdes, estragão, lima e bisquet frio de crustáceos”, as “Alcachofras ao vapor com presunto de bolota ibérico de Jabugo, creme de essência de trufas, óleo de avelãs, finas fatias de queijo de Serpa” e a “Cauda de lagosta europeia, com gaspacho de tomate e manjericão, salada de funcho e pepino, azeitonas e melão”.
Ficaram por provar o “Mármore de foie gras de pato com figos algarvios, chutney de frutas da estação, pimenta de Voatsiperifery (uma pimenta endémica de Madagáscar) e tosta de brioche” e o “Coração de lombo de salmão fumado, abacate, toranja, molho de cocktail de ouriço do mar, beterraba crocante”.
Da extensa carta de vinhos que conta com exclusivos rótulos franceses, espanhóis e portugueses, escolhemos um vinho nacional, o Quinta do Crasto, do Douro.
Para prato principal, ou “le plat de résistance” como dizem os franceses, a nossa escolha recaiu sobre um “Peito de pintada recheado com foie-gras assado a baixa temperatura, mini-vegetais salteados com manteiga de ervas, puré de raiz de aipo perfumado com essência de trufa”. A carne apresentava uma textura leve e suave, delicadamente recheada com o foie-gras amanteigado e no exterior, uma deliciosa pele crocante. Provámos também o “Lombo assado de novilho Simmenthal, com espargos verdes, chalotas confitadas e um apurado molho de vinho tinto da casta Touriga Nacional”.
Peito de pintada recheado com foie-gras assado a baixa temperatura,
mini-vegetais salteados com manteiga de ervas,
puré de raiz de aipo perfumado com essência de trufa
Lombo assado de novilho Simmenthal,
com espargos verdes, chalotas confitadas
e um apurado molho de vinho tinto da casta Touriga Nacional.
(a foto ficou muito escura, porque já não havia luz no exterior)
O casal de amigos que nos acompanhou nesta noite provou uma saborosíssima costeleta de novilho espanhola, amadurecida durante 25 dias, assada e fumada, servida numa tábua de madeira, com um molho de legumes. A apresentação foi espetacular. O naco de carne com osso veio à mesa acompanhada de um potezinho fumegante e aromático de carvão e alecrim.
(a foto ficou muito escura, porque já não havia luz no exterior,
mas desta vez usei o flash, que infelizmente deixa a comida com aspeto pouco natural...
é o que dá fazer isto "live" e sem filtros :) )
Do cuidado cardápio do Casa Velha, ficaram naturalmente muitos pratos por provar. Talvez para a próxima experimente o “Carré de borrego com confit de limão, vegetais primavera regado com molho Berber e menta”; ou ainda os pratos de peixe, tributo aos mares do Algarve, como o “Robalo selvagem a baixa temperatura com erva-limão, acompanhado de alho francês, gengibre e menta e um salteado de cogumelos de São Jorge” ou o “Peixe-Galo ao vapor com folhas de limão-kaffir, risotto de beringelas e limão, suco de assado e pesto de rúcula”, entre outras iguarias.
Para terminar em beleza, não resistimos provar as sobremesas. Escolhemos a sobremesa d,e assinatura, um bolinho morno “Opus de chocolate de Santo Domingo recheado com framboesas frescas, creme de leite de coco e sorbet de frutos vermelhos”. Eu decantei-me por uma sobremesa de clássicas influências algarvias: “Figos grelhados com gelado de alecrim e mel, biscoito crocante". Porém, antes de chegarem as doces criações, a cozinha enviou-nos uma pré-sobremesa sui generis, um refrescante e inovador sorbet de pimento vermelho, que não me conquistou.
Opus de chocolate de Santo Domingo recheado com framboesas frescas,
creme de leite de coco e sorbet de frutos vermelhos.
Figos grelhados com gelado de alecrim e mel, biscoito crocante.
(também não tinha luz...)
Petit-fours.
Os chás e os cafés vieram acompanhados de uma seleção de “petit-fours”: pequenas esponjas de pistácios e framboesa, geleia de amoras negras e macarrons de limão.
Em todo o desfile de pratos foi possível sentir a maturidade gastronómica do Chef, as influências francesas da sua cozinha, permeadas com algumas inspirações lusas, graças aos vários anos de residência no Algarve. O Chef e a sua esposa, a Maitre D’ somam vários anos à frente deste restaurante, com alguns interregnos pelo meio, com experiências em França e Suiça. Oferecem-nos uma cozinha francesa de toque atlântico e um serviço atento e impecável. Não é portanto de admirar que Madame et Monsier Guichaoua contem com um grupo fiel de clientes, que voltam, ano atrás ano. Isso sim, a visita deste ano será uma grande surpresa, pois a sublime renovação veio engrandecer em sentido lato, o projeto gastronómico do Casa Velha.
Quando demos pela hora já era noite fechada. De volta ao carro, no curto passeio em buggy até ao parque de estacionamento, ainda tivemos direito a um concerto de grilos e estrelas cadentes. O Casa Velha é talvez um dos restaurantes mais românticos da Quinta do Lago. Vale a pena conhecer.
Mesa romântica para dois.
Espaço interior do Casa Velha.
In vino veritas.
Snack de "pimiento de pequillo"
As horas calmas do pôr-do-sol.
Para Mais Informação e Reserva:
Restaurante Casa Velha
Quinta do Lago (rotunda nº6)
8135-024 Almancil
Telefone: (+351) 289 394 983
Página web: www.quintadolago.com
E-mail: casavelha@quintadolago.com
Tipo de Cozinha: Cozinha Francesa
Categoria: Dispendioso
Ambiente: Formal e Romântico
O belo bar do Casa Velha, entre os perfumes cítricos dos limoeiros.