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Monterosa. Pelos Algarves, na senda do melhor azeite do mundo...

O carro saiu da estrada principal e entrou numa alameda de palmeiras e oliveiras. Levantou-se uma nuvem de areia e pó fino. Ao fundo, a casa em tons de terracota e o recorte das montanhas, fizeram-me acreditar que estava a entrar numa riad marroquina. Mas não, continuava aqui, em pleno sotavento algarvio. Na senda do melhor azeite do mundo. O Monterosa.

Quando me contaram não acreditei. O melhor azeite do mundo é algarvio? Não pode ser, tenho que ver isso com os meus próprios olhos. E fui.

Recebeu-me um octogenário sueco que há mais de 40 anos decidiu tentar o sonho da horticultura em Portugal. Primeiro queria produzir salada, depois fez nome como produtor de flores de viveiro, e há pouco mais de 10 anos resolveu investir na produção de azeite. Na altura, todos lhe disseram que estava louco. Azeite no Algarve? Isso é impossível. E agora, uma década depois, cá está ele, Detlev von Rosen, a esfregar as mãos de contente com a sua produção de azeite, e não é uma qualquer, repito, produz o melhor azeite do mundo, galardoado com várias medalhas de ouro recebidas em certames internacionais, a última em Nova Iorque.

O nome talvez ainda lhe seja desconhecido. Monterosa. Para além da venda direta por internet, tem poucos pontos de venda e só é possível encontrá-lo em boas lojas gourmet, como a Boutique do El Corte Inglés ou os Apolónia. Existem cinco variedades. Quatro elaboradas com uma monovariedade de azeitona, a Maçanilha, Cobrançosa, Verdeal e Picual e um blend, uma mistura de variedades de azeitona . Curiosa, quero ir conhecer as oliveiras. “Já estou muito velho para ir para o campo o meu rapaz leva-te” diz-me com os olhos azuis intensos. Faço o caminho com um dos seus netos afastados, Gabriel von Rosen, um rapaz louro de pouco mais de 20 anos, também enamorado pela arte do azeite. Leva-me a conhecer as oliveiras, que nesta altura ainda se encontram em flor. Caminhamos pelos campos, entre ervas e flores propositadamente plantadas para aportar vitaminas e sabor ao azeite. São as 11 da manhã e já o calor se torna insuportável. Cuidadosamente, afasta as folhas de uma oliveira milenária, mostra-me uma flor e promete-me em segredo, que ali nascerá uma azeitoninha algarvia.

Por aqui, em Moncarapacho, é a princípios de Setembro que as azeitonas são apanhadas à mão e transportadas de imediato para o lagar onde ainda é possível ver umas antigas pedras de mó de granito, quiçás da época romana. Afinal, penso eu, o azeite algarvio não é de invenção nova, já os antigos romanos produziam por aqui o ouro líquido. A apanha desta azeitona é feita mais cedo que em outras zonas do país, um segredo para manter o sabor intenso e frutado do produto “tivemos que ir testando o momento da colheita, os especialistas diziam-nos para a próxima mais cedo, mais cedo, até que chegámos ao momento ótimo”, revela Von Rosen.

Hoje, as azeitonas que dão origem ao azeite virgem extra Monterosa são centrifugadas por máquinas modernas trazidas de Itália, no mesmo dia da apanha, para evitar fermentações do fruto. Depois de extraído, o azeite é arrecadado em tanques de aço inoxidável até ser filtrado e engarrafado.

Parte fundamental da dieta mediterrânea, o azeite é utilizado como produto gourmet pelos melhores chefs do mundo e a sua fama chega além fronteiras. Este, o Monterosa, para além de ter sido reconhecido em vários certames internacionais já chegou às páginas do Le Monde, de revistas especializadas como a Epicurean, e à mesa dos Reis da Suécia, mas é ainda relativamente desconhecido em Portugal. Lá está, o “bom profeta nunca é reconhecido na sua pátria”.

A Prova dos Azeite

Tal como o vinho, é possível degustar o azeite, sentir as suas notas frutadas, identificar os aromas dos prados, da palha ou da relva cortada, o toque final de acidez ou as suas caraterísticas picantes. O octogenário faz-me sentar na ponta de uma mesa de madeira ao fundo do lagar. Perfilam-se as cinco variedades de azeite Monterosa. “Vou-te mostrar como se faz” diz-me com ar misterioso. Verte um fiozinho de azeite para dentro de um copinho. Depois guarda-o entre as palmas das mãos, como se estivesse a embalar uma pomba. “Tem que chegar aos 29 graus, só assim liberta todos os aromas”, explica. Imito-o. Convida-me a desligar do mundo “é muito importante que feches os olhos” e a mergulhar o nariz no copo do azeite. Imediatamente naufrago numa onda de cheiros e aromas que lembram os campos e as searas. “É o terroir” conta. Aqui encontram-se todos os perfumes da terra, do clima, das ervas, do sol, dos ventos oceânicos e até das árvores frutais plantadas perto das oliveiras. Sinto-me aturdida. A cabeça a rodopiar com os aromas. Não esperava que um azeite me transportasse à memória dos verões quentes da infância. Depois, o meu guia passa a sorver o azeite e a elaborar uns ruídos estranhos com a boca fazendo passar o ar entre os dentes. Faço o mesmo, sem vergonha. Soltam-se umas cócegas na garganta que me fazem rir. "Quanto mais intenso, mais comichão" comenta Von Rosen divertido com a minha reação. E o azeite liberta um sabor intenso, aromático e frutado como uma noite de Verão.

Provámos as cinco variedades, aumentando o grau de intensidade. Primeiro, o Monterosa Verdeal, com notas suaves a fruta, erva fresca e amêndoas, perfeito para saladas, tomates, pão, sopas e vinagretas. Seguiu-se o Monterosa Maçanilha, de cariz elegante com notas mais frutadas que o anterior e sabor de erva fresca recém cortada, indicado para saladas, vegetais ou tostas. Passámos ao Monterosa blend, um pouco mais complexo que os antecessore, com uma crescente sensação de cócegas na boca, aroma a fruta com ligeiro toque de acidez, pensado para peixe grelhado e verduras.

Depois foi a hora de provar a variedade Picual, com maior intensidade em boca e um equilíbrio perfeito entre a sensação de erva, fruta picante e acidez. Esta variedade combina bem com todos os grelhados especialmente com peixes de sabor robusto.

Finalmente, chegou o Cobrançosa, o azeite mais pungente e picante. Perfume a palha, especiarias e fruta madura. Em boca apresenta um sabor muito complexo e é excelente para carnes ou molhos aromáticos.

Quem poderia pensar que com apenas 20 hectares de terreno no sotavento algarvio é possível produzir o melhor azeite do mundo? Mas nem tudo o que luz é ouro, nem mesmo o azeite. Von Rozen conta que foram 10 anos de luta e de esforço. Todo o seu dinheiro está ali enterrado, bem como todos os seus sonhos e esperanças. As primeiras colheitas foram más, as seguintes foram melhores e as últimas de excelência. O processo de aprendizagem não se fez de um dia para o outro, foi preciso ir afinando o momento da colheita, o processo da centrifugação com pedra, a filtragem e até os tratamentos prévios à azeitona, que é protegida dos mosquitos com a aplicação de uma pasta de argila branca.

Hoje, a produção é relativamente pequena, 20.000 litros anuais, mas de uma qualidade quase inigualável. Monterosa é um azeite raro e precioso. E é produzido aqui, no coração do Algarve, quem diria?

Uma explosão de cores e aromas conformam a paisagem da quinta do Azeite Monterosa.

O caminho do tempo empresta a este lugar um charme especial.

Gabriel Von Rosen mostra-nos as minísculas flores das oliveiras que despontam nesta altura do ano.

Com o azeite remanescente, em Monterosa produzem-se uns maravilhosos sabões naturais.

As antigas pedras de lagar são uma marca do património histórico de Monterosa.

Detlev Von Rosen, visionário do azeite e das flores de viveiro.

Fiquei encantada com a quinta de Monterosa. As cores. Os aromas.

A beleza do Algarve desconhecido.

Para mais informação:

Monterosa

Lagar da Horta do Félix

Apartado 26

P8700-068

Moncarapacho, Algarve

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