Grissino, o melhor restaurante italiano do Algarve e arredores.
A Rua da República em Almancil não é conhecida pela sua beleza arquitetónica. As casas sucedem-se como caixas desconjuntadas ladeando um passeio e uma estrada esburacada. Nesta rua, existe um antigo cinema que terá emitido o seu último filme na década de 90 e desde então, apresenta-se desolado com as suas portas fechadas com grades de ferro. Nesta rua há também o correio de Almancil, duas ou três àrvores que emprestam um pouco de charme bucólico, um talho pensado para residentes ingleses, um estúdio de unhas de gel com cortinas cor-de-rosa e alguns locais abandonados. As montras que antes conheceram risos e conversas, encontram-se semi-ocultas com panos, cartazes amarelados de "vende-se" ou "aluga-se". Os antigos letreiros de neón já não acendem e não dizem coisa com coisa, porque o vento ou o tempo, resolveram levar-lhes alguma letra.
Não se espera, portanto, que nesta rua com ar pós-industrial se encontre um dos melhores restaurantes italianos do Algarve (e talvez do país). O seu letreiro de néon amarelo prende a nossa atenção. A impressão apocalíptica urbana e o frio de uma noite de Janeiro, dissolvem-se com o abrir da porta de vidro e entrar no calor aromatizado a manjericão, tomate e queijo derretido. Recebe-nos Pietro Lombardo, 60 e muitos, sorriso franco sublinhado por um bigode italiano, prateado e bem aparado. Don Pietro é a alma viva de Grissino, a sabedoria gastronómica adquirida durante anos atrás dos tachos, foi transmitida ao filho, agora o Chef executivo, Andrea Lombardo. Sentamo-nos numa das mesas compridas em madeira maciça, ao lado do casulo de prateleiras onde se alinham, primorosamente, garrafas com grandes vinhos italianos e portugueses.
Ao fundo soa uma ópera de Caruso e a orquestra dos tachos e das colheres na cozinha. O jovem chef Andrea batalha entre fogos e especiarias, para oferecer-nos as pastas mais frescas, saborosos molhos carregados de tradição italiana e pratos coloridos de texturas autênticas. No teto, um fresco inacabado transporta-nos a Roma, à memória de uma viagem turística pela Capela Sistina. Candelabros e quadros dão um toque de cor e emprestam uma patine amarelada e confortável ao pequeno restaurante. De repente essa memória apocalíptica da rua desfaz-se lá longe, os músculos descontraem-se, respiramos fundo, estamos em casa.
Este é um verdadeiro negócio de família. O pequeno (em tamanho e grande em personalidade gastronómica) Grissino, existe há pelo menos 12 anos. Ouvem-se rumores, de quando em quando, que mudará de localização, que fechará as portas, que isto, que aquilo, mas este pequeno templo da comida italiana tem-se mantido impávido aos mexericos deste mundo. Sabe-se lá que vontades, aspirações ou sonhos se cozinham a fogo lento na cozinha, mas não é a nossa missão indagá-los ou julgá-los. Vimos aqui pela comida. E que comida!
Mamã Marilina, madeirense de nascimento, papá Pietro e o filho-chef Andrea oferecem-nos uma carta repleta de sabores italianos. Pastas com molhos de chorar por mais, carnes feitas no ponto e sobremesas divinas, onde não falta uma porção gigantesca de Tiramisú, ou a delicada Panna-cota. Pietro preparou-nos um misto de entradas. Sentados nessa mesa rectangular (como é bom ter um lugar favorito, num sítio assim) sucedem-se os pratos, como se esta fosse a nossa última ceia. Um festim para os sentidos: na travessa comprida esperam, tentadores, pedaços de doce melão com prosciutto di parma, fatias de mozzarella di bufala regadas com creme
balsâmico, beringelas gratinadas com tomate e queijo no forno, espargos verdes crocantes com lascas de parmesão, finas fatias de vitela assada com molho de atum e alcaparras, esse clássico piemontês vitello tonnato conseguido à perfeição. Depois chegam uns gnocci frescos com molho de salmão fumado, suaves na boca, desfazendo-se em sonhos na alma. Quando pensamos que o estômago não aceita mais comida, chega um majestoso lombinho cozinhado no ponto e com um molho de tomate siciliano, doces tomates cozinhados lentamente, salva, alcaparras, azeitonas negras e outros ingredientes que se mantêm secretos. Regamos todas as iguarias com um bom Brunello de Montalcino de 1998 e no final, só é possível levar a mão à barriga inchada de prazer e desenhar um sorriso de puro deleite. Mas lembram-se desse Tiramisú? Pois é, a tentação ataca transformada numa prodigiosa porção, felizmente com colheres para todos nós pecarmos e assim repartir as calorias e a culpa pelo pecado da gula. Em nenhum momento foi possível servir-nos de água ou vinho, pois o Don Pietro, sempre atento, antecipava os nossos desejos, oferecendo-nos um serviço diligente e impecável.
Não sei se alguma vez terá a oportunidade de visitar a autêntica Italia e de conhecer a cozinha feita por mãos experientes em restaurantes tradicionais, longe da oferta turística. Não sei. Mas pelo menos terá a oportunidade de a conhecer aqui, neste pequeno restaurante Grissino, onde a gastronomia é elevada ao nível de arte e oferecida com amor e a dedicação de uma família italiana. E talvez seja por isso, que o Consulado Italiano em Portugal e a Câmara de Comércio Italiana destacou, em 2012, o Grissino com o "Ospittalitá Italiana". Um prémio pelo contributo à gastronomia italiana e muito exclusivo, pois existem apenas quatro atribuídos em Portugal.
E como chega ao nosso país uma jóia-gastronómica deste alto gabarito? Resposta simples, pelo coração. Pietro Lombardo começou a sua carreira gastronómica na Alemanha, mais precisamente na cidade de Berlim, onde desde 1979, regentava o seu próprio restaurante. A esposa, Sra. Marolina, sempre almejou voltar a Portugal e em 2001 ouviram o fado da saudade e deram o salto à procura do sol do nosso Algarve. E que sorte para nós! Não deixe de conhecer esta gema da verdadeira cozinha italiana, vale mesmo a pena.
A Rua da República em Almancil não é conhecida pela sua beleza arquitetónica, mas sim por um dos melhores restaurantes italianos que pode encontrar sem sair de Portugal. Arrivederci Roma, Ciau Almancil!
Il Grissino
Telefone: 289 356 562
Morada: Rua da República
8135-121 Almancil