Veneza: O Restaurante onde triunfa a paixão pelo Vinho
Sábado à noite. Mem Moniz, uma pequena aldeia perto de Paderne, num Algarve de verdade, no interior do concelho de Albufeira. À entrada do Veneza, aguardavam várias pessoas. O termómetro não devia marcar mais do que 13 graus, e era esse ligeiro frescor de Outono, que levava os grupinhos a juntarem-se, em conversas animadas, a partilhar um cigarro e a esfregar as mãos para se aquecerem. É bom sinal, pensei. Se há pessoas à espera, então é porque o restaurante deve ser bom.
Ao abrir a porta fomos recebidos pelo calor humano e uma nuvem de vozes e aromas da boa cozinha tradicional. As mesas estavam repletas de famílias, grupos e casais. As bochechas dos comensais estavam coradas pelo calor do vinho e pela rija gastronomia portuguesa. Na primeira sala, todas as mesas cheias. Não havia espaço nem para mais um alfinete. Na sala dos fundos, onde se erguem as míticas prateleiras de madeira repletas de garrafas de vinho, repetia-se o mesmo espetáculo.
Ficámos então a aguardar pela nossa mesa na salinha do meio, um bar acolhedor com pipas de madeira cunhadas pelas melhores garrafeiras portuguesas e um contrastante "winebar high-tech" em preto lacado e luzes de néon onde se alinhavam as garrafas seleccionadas à disposição do comensal. Uma mistura de restaurante tradicional com apontamentos dos tempos modernos. Ficámos logo ali, de pé, apoiados nas pipas ao lado do tal paraíso do "self-service" vínico. Intrigou-me este "app". Funciona com um cartãozinho que vai guardando os consumos, tem os copos de vinho ao lado bem alinhados e podemos ir degustando ao nosso ritmo 1/2 copo ou copo inteiro destas delícias bem escolhidas. Essa noite havia:
- Chriseya, P+S: Prats & Symington, Quinta de Roriz, Douro D.O.C. 2011. Tome atenção: a este vinho foi considerado este ano como o terceiro melhor vinho do mundo, segundo a revista americana Wine Spectator;
- Pacheca, Douro, D.O.C. Grande Reserva de 2011. Ou o triunfo da Touriga Nacional.
Provámos o Chriseya, o Almaviva e o Pacheca (qual deles o melhor) enquanto observávamos a roda viva dos empregados que passavam com as mãos cheias de iguarias algarvias e nas mesas, os comensais felizes e coradinhos de tanto comer e beber... Oh, que bela vida! Também nós já estávamos um pouco "alegres" e coradinhos quando chegou a nossa vez.
Tivemos lugar na mítica sala principal, ao fundo do restaurante, entre primorosas fileiras de garrafas de (quase) todas as principais garrafeiras e produtores nacionais. Este é para qualquer gourmand um verdadeiro templo hedonístico. Onde quer que o olhar nos leve encontramos sempre aquela, ou aquela, ou sim, e aquela! garrafa, aquele ano, aquela colheita... Que perdição!
Na mesa aguardavam as entradas tradicionais... um bom queijinho de ovelha amanteigado, pão alentejano, salsichão e presunto e azeitonas. Eu, feliz. O meu marido que é alemão de gema e ainda não se sensibilizou com todos os nossos sabores, torceu o nariz. Mas rápido voltou a encantar-se quando depois de uma demorada vista de olhos pela carta (bíblia) dos vinhos, encontrou um Zambujeiro de 2009. Produzido por um suiço nas boas terras alentejanas, o Zambujeiro é um dos vinhos portugueses mais especiais, com uma mistura certa de Touriga Nacional, Alicante Bouschet, e um pequeno toque de Petit Verdote de Tinta Caiada, com estágio de dois anos em barricas de carvalho francês.
Pedimos uma ementa de requinte burguês: caldo da serra, uma pesada e saborosíssima sopa de feijão com chouriço e couve (aqui o meu querido alemão não resistiu... estes sabores fortes lembram-lhe os Omas Eintopf: os guisados da avó), frango de fricassé (regular... demasiado vinagre) e língua de vaca estufada em cenouras, cebolinhas e tomate apurada com um bom molho de vinho tinto - confeccionada com verdadeiro primor (até salivo só de voltar a pensar neste prato).
O Zambujeiro foi devidamente decantado. No copo apresentava uma lágrima grossa e ao primeiro aroma envolvia-nos os perfumes de violetas, pimenta, frutos vermelhos. No paladar, um vinho complexo e bem estruturado com um final persistente e notas de chocolate negro. Entre prato e prato, levantávamo-nos de copo na mão, para passear entre o desfile de mais de dois mil rótulos vínicos. É uma galeria de peso coleccionada pacientemente durante mais de 20 anos por Manuel Janeiro. Ao fundo encontrámos mais uma pequena adega protegida com portas de vidro que guarda referências de outras latitudes e também alguns dos melhores vinhos espanhóis atuais: Vega Sicília, o AAlto, o El Nido, Clio, Jumilla e tantos outros...
O meu alemão do coração ainda cedeu à tentação de um pudim caseiro para terminar a noite em doçura... O Zambujeiro começou a fazer efeito e as palavras saíam efusivas entre risadas e verdades. Lá diz o velho ditado alemão: os bêbados e os tontos dizem sempre a verdade!
Quando estiver no Algarve, não deixe de experimentar este espaço único:
Restaurante O Veneza:
Estrada de Paderne 560A, 8200-488 Albufeira
Telemóvel:289 367 129
Página Web: http://www.restauranteveneza.com