As mulheres feias não existem
Hoje estive à espera mais de hora e meia num consultório médico. O médico é do sistema privado, portanto, não entendo porque é que não cumpre com a sua agenda, como o resto dos profissionais nos outros setores. Se eu deixo algum cliente meu à espera hora e meia, de certeza que quando sair do meu escritório para ir ter com ele a única coisa que vou encontrar é a cadeira vazia e provavelmente a certeza de que nunca mais entrará em contato comigo. Não sei porque que é que (alguns, alguns) médicos em Portugal fazem isto. Sim porque nos anos todos que vivi fora de Portugal também ia (infelizmente, claro) a médicos e nunca estive tanto tempo à espera do "Sr. Doutor". Enfim, também não posso tomar a parte pelo todo! De certeza que existem por aí muitos médicos portugueses que honram os horários com os pacientes...
Como não ia preparada para estar hora e meia "à seca", passei a pente fino as revistas femininas do consultório. Para ocupar a mente resolvi contar as imagens existentes em todas as revistas e avaliar quantas imagens correspondiam a mulheres reais e quantas a mulheres perfeitas (cabelo, rosto e corpo de modelos). Cheguei à brilhante conclusão de que 97% das mulheres eram PERFEITAS. E os restantes 3% eram normais em versão "upgrade". Vou ser ainda mais concreta. Todas as mulheres das revistas e apresentadas em fotografias, anúncios e reportagens eram LINDAS ou "PHOTOSHOPEADAS" para parecer ainda mais lindas. Os 3% de mulheres normais correspondiam a jornalistas, a senhoras que se sujeitavam ao "antes e depois" e algumas pessoas entrevistadas. Mas atenção, nenhuma destas "normais" aparecia em versão "normal" todas em versão "produzida". Não encontrei nenhuma mulher com o corpo fora do padrão de beleza e estético atual, nenhuma normal-feia, nenhuma feia, nenhuma gordinha-bonita, nenhuma gordinha-normal e muito menos nenhuma gordinha-feia. E todas, todas brancas.
E isto deixou-me a pensar. Tudo bem, talvez os anunciantes das revistas pensem que não vão vender nada se escolhem pessoas normais. E muito menos com as feias. Até consigo perceber que nos anúncios não existam pessoas normais. Mas e nas reportagens? Acaso as revistas femininas não retratam as mulheres de hoje? Não deveriam ser representadas as mulher que compõem a nossa sociedade? E elas são de todo o tipo: altas, baixas, magras, gordas, normais, bonitas, feias, brancas, negras e às pintinhas! O que quero dizer, e desculpem a minha tomada de posição, é que as revistas femininas deveriam defender-nos mais. Porque qualquer mulher precisa de ajuda e de uma dose de auto-confiança. Quando lemos estas revistas, primeiro ficamos com uma vontade enorme de olhar para o espelho e pedir encarecidamente que desapareçam as rugas, as olheiras, os quilinhos e que algum maravilhoso doutor nos transforme numa modelo de 20 anos. Não tenho nada contra a medicina estética, ao contrário! Especialmente se serve para cada uma de nós se sinta melhor com o nosso próprio corpo, envelope não escolhido, para viver esta vida! Mas estou contra esta mania das revistas em glorificar constantemente o belo, o jovem, a perfeição inalcançável para a maioria de nós.
Ainda bem que o doutor de quem eu estava à espera é cardiologista e não é de medicina estética, porque se não eu tinha firmado ali logo um "complete makover". :):):):) Terminada a consulta, saí à rua. Ah! Aqui estão as mulheres normais, as bonitas e as feias. Finalmente, gente normal, como eu. Conclusão do dia: as mulheres feias não existem. Nas revistas claro. Porque andam ocupadas cá fora a viver uma vida real. E a ser felizes.
Beijinhos Chiques!
Ps: E já agora, se tiver um tempinho, o que é que acha disto?