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Voltará a ouvir-se a música das palavras? A magia analógica da máquina de escrever chega ao mundo di

Tac-tac-tac-tac-tac, Plim! Nas férias, quando era pequena costumava escapar-me ao escritório do meu avô para poder usar a sua máquina de escrever. Fazia-o às escondidas. Achava fascinante enrolar uma folha de papel em branco e acertá-la na régua interna, bem posta dos dois lados para não ficar torta. Depois, ao princípio com dificuldade e ainda a medo, pressionava as teclas para formar palavras.

Ficava a imaginar que era uma grande escritora e olhava para esse papel em branco como o possível princípio de qualquer narrativa. Então vinham os suores. A sensação do precipício da folha em branco. O que escrever? As palavras começam a perder o sentido se as repetes várias vezes na cabeça. Mais, se as digitas letra a letra. Então girava as rodinhas e atirava ao lixo a folha de papel. "Comecei mal." pensava, e depois voltava à carga: "Agora é que vai ser." E lá tentava mais uma vez.

A máquina de escrever Remington do meu avô, era um objeto que tinha para mim uma aura especial. E tinha um aroma especial. Não me lembro bem, se era o aço das teclas, da tinta, do óleo, da capa em pele que a recobria ou simplesmente do papel. E agora que escrevo sobre ela, estou a desatar uma memória olfativa guardada com a patine do tempo.

Nessa altura não havia computadores em casa. Os telefones tinham uma rodinha que fazia claq-claq-claq quando marcávamos um número. O maravilhoso mundo analógico da minha infância. E não pensem que foi assim há tanto tempo. Tenho 36 anos.

Já no liceu em Coimbra, no 8ª ou no 9ª ano tive uma disciplina opcional de "mecanografia". Eu imaginava que ia entrar numa equipa de secretárias com óculos empinados na ponta do nariz e mecanografiar furiosamente como no anuncio da Canon. Mas não, a realidade era outra e tive aulas numas máquina de escrever elétrica, uma qualquer coisa híbrida entre o analógico e o digital. Já com os meus 16 anos entreguei o meu primeiro trabalho feito em computador. A partir de aí, não passou um dia sem que os meus dedos tocassem em algum teclado, mas nunca mais houve aquela magia analógica da máquina de escrever.

Hoje descobri um invento maravilhoso. Uma empresa (USB Typewriter) lembrou-se de adaptar as antigas máquinas de escrever aos computadores portáteis ou Ipads. O mundo analógico liga-se agora ao digital através de uma simples USB. Não é uma ideia fantástica?

Mais informação:

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