Fashion Food no menú do dia. Já fez a lista das compras?
Cuidado, a sua lata de tomate pode ser a sua próxima carteira! Chanel, Moschino e Anya Hindmarch estão hoje para a Fashion Food como Andy Warhol esteve para a Pop Art.
S.W. Explico-me. A gastronomia e a moda andam ultimamente e de forma quase obscena de mãos dadas. Durante anos foram apenas as criações dos desenhadores, as cores, as geometrias, as rendas, os apliques e os padrões que passavam das passerelles aos ateliers das cozinhas e inspiravam as criações dos grandes chefs. Raramente a inspiração passou em sentido contrário, isto é, do mundo gastronómico à passerelle. Aliás, nos 90, modelo que se prezasse, nem sequer poderia ser vista perto de alguma cadeia de fast-food. Hoje, a história é outra.
Na pintura e artes plásticas estas influências sempre foram muito mais fortes. A comida, os utensílio de cozinha ou de mesa compõem as naturezas mortas em pintura, desenho ou fotografia desde a Grécia Antiga. Foi nas décadas de 50 e 60, que se deu um novo salto com a Pop Art. A famosa coleção de Andy Warhol com as latas de sopa de tomate Campbell relacionaram para sempre o mundo da comida com a arte. A intenção não era o retrato da lata de sopa, mas sim gritar ao mundo que a arte e a cultura se estavam a massificar.
E agora chegou a Food Fashion.
Tudo começa com o mestre Karl Lagerfeld. Para o último desfile de Chanel, o desenhador criou uma "mise-en-scène" num supermercado. Cara Delevingne (a it-girl do momento) e a cantora Rihanna exibiram os novos modelos Chanel enquanto fingiam fazer compras entre as prateleiras de comida e usando carrinhos de compras chiquérrimos num supermercado fictício. Aí, aparece a carteirinha fetiche da estação Outono/ Inverno 2014, o pacote de leite Chanel! Em versão "Lait de Coco" em pele prateada com corrente e letras bordadas em pérolas ou em versão colorida. Um extravagância absoluta.
Depois veio, Anya Hindmarch e a sua coleção de carteirinhas em forma de pacotes de cereais. Os pacotes dos flocos da Kellog's, os Choco Pops ou os Frosties saltaram da mesa do pequeno-almoço para a passerelle e de aí diretamente passaram a ser objeto de desejo para as "fashionistas".
Mas isto não fica por aqui. Em Itália, a casa Moschino apostou forte no uso de padrões inspirados em rótulos, sapatos, malas e acessórios feitos ou com materiais reciclados, tampas de garrafas ou designs que lembram os anúncios impressos da Coca-Cola ou da McDonalds. A excentricidade do diretor criativo da marca, Jeremy Scott, chega ao ponto de vestir as modelos com o uniforme da McDonalds apresentando as carteirinhas fetiche em forma de copo XXL de bebida, de pacote de batatas fritas ou ainda um bolso em forma de cartão McMenu... Horrendo ou absolutamente genial?
Mas o que é que estes desenhadores nos querem dizer com isto? São provocações, golpes de marketing? Ou será a forma que encontraram para nos fazer pensar? Chegámos a um ponto em que o consumismo em moda é tão selvagem que transformou a arte em fast-food? Terão a globalização e o consumismo acabado com as peças únicas? Tudo é agora industrializado, massificado, duplicado, triplicado, mecanizado, popularizado, usado e esquecido. A cultura de massas tão duramente criticada pela Escola de Frankfurt continua, hoje, a transformar a arte e a moda em meras mercadorias de "usar e deitar fora" para satisfazer a utilidade do público.
Por isso creio que as propostas quase satíricas de Chanel, Hindmarch ou Moschino não são horrendas. São horrendamente geniais. E a mensagem que nos pretendem passar é a mesma que Warhol tinha em mente ao apresentar a coleção de latas de tomate em 1962: O mundo lá fora anda louco. Somos escravos de um consumismo feroz, que transforma o tudo em objetos massificados capazes de satisfazer multidões.
Fashion Pop Food, é isto. Pronto, acabei de bautizar o movimento.
Mas estas tomadas de posição dos desenhadores têm um preço. De certeza que um "pacote de leite" Chanel ou um "pacote de batatas fritas "Moschino não cabem no carrinho de compra de qualquer um.
Beijinhos chiques.
Mala "bolsa de batatas fritas" by Moschino, Outono-Inverno 2014
Carteirinhas de mão de Anya Hindmarch
O cestinho de compras mais chique de sempre. Uma provocação, Chanel. Claro.
Cá está ela, a mais desejada carteira do Outono/Inverno 2014. O pacote de leite Chanel.
Por acaso tenho intolerância à lactose, mas por uma destas não me importava de sofrer as consequências... :):))))
Moschino, provocador... :)