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Don't Worry... Be Happy! Ilha do Farol.

Ilha do Farol. Se eu pudesse produzir um filme sobre "O Velho e o Mar" aqui seria o lugar ideal. Tudo lembra o mundo imaginário de Hemingway, a paisagem marítima, as casas baixinhas, umas construídas em materiais reciclados, outras, quiçá de algum pescador mais rico, com cimento, tijolos e chapa. Aqui não há carros, nem estradas. Apenas areia. Entre as casas, ladeiam pequenos passeios em betão, ou em tábuas de madeira e zinco e que o vento teima em levantar.

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Acabo de chegar. Vim no "água-taxi" do João, desde o porto de embarque na zona antiga de Faro. A travessia na Ria custou 35 euros e durou apenas 15 minutos. Digo apenas porque a extraordinária beleza da Ria Formosa impacta e só nos apetece passar o dia passeando entre os canais. Fico até um pouco triste quando aparece, imponente, o farol. Significa que a viagem em barco está prestes a terminar. Depois está o perfume a Ria. Esse odor penetrante a mar, a lodo, a algas, a moluscos, a sal, a peixe, a cordas que invade as minhas narinas e chega ao âmago do meu ser. Respiro fundo, para interiorizar a terapia marinha.

No taxi-barco do João cabem até 5 pessoas. Partilhei a viagem com Bruno e António, dois pescadores amadores armados de canas, sacos e mochilas. Vão passar a noite na ilha. Querem pescar e dormir debaixo das estrelas. Todo um luxo: pura poesia existencial.

A tristeza que sentia por se ter acabado a viagem foi já esquecida. No momento em que ponho o pé no degrau de limo e lapas do pontão da Ilha do Farol, entro num mundo novo. Bem atrás, lá horizonte, deixo os arranha-ceús de Faro e os edifícios dos hotéis de Olhão. A civilização e o mundo moderno ficam assim, difusos do outro lado da Ria. Aqui, na Ilha do Farol, o tempo corre de outra forma.

Ao chegar encontramos logo dois bares em madeira e chapa, um pintado a azul celeste outro a verde limão. Dos tetos balouiçam redes de pesca ao som do reggae: "Could it be Love" de Bob Marley. Alguns estrangeiros lêem livros e bebem "meias de leite". Nas outras mesas há "farolenses", pescadores de cara magra, pejada de manchas solares. Bebem cerveja e conversam como se não houvesse amanhã. Afinal, hoje é Domingo. Ainda algumas mesas com famílias sorridentes. As crianças correm descalças. Não pela pobreza, mas sim porque estão livres e felizes.

De novo, tenho a impressão de que me transportaram para algum lugar longínquo. Não parece Europa. Parece que estou algures na "Ilha das Mulheres" no México. Estamos a meio de Setembro, faz um sol radiante e 27 graus. Rumo pelos caminhos de betão feitos artesanalmente com cimento e madeira e que circundam as casitas. Mais que uma aldeia, vêm-me à memória um parque de campismo. Algumas das casas são legais, têm água e luz, mas outras foram construídas em cima da areia, em madeira, em chapa e muito amor.

Cada casita tem o seu pequeno jardim onde se sentam os "farolenses". Jardins marinheiros, já se sabe. Como a água não abunda, aqui não se encontram relvados, mas sim alegretes feitos com plantas, cactos, pedras, pedaços de barcos, redes de pescadores, fundos de garrafas. Um homem sem camisa e com uma orgulhosa barriga de cerveja passeia-se feliz pelo seu jardim com a espátula do grelhador na mão. Sorrio-lhe e pergunto-lhe o que há hoje para o almoço. Cavala grelhada. "Bem fresquinha, apanhada hoje à noite!". Convida-me para almoçar, agradeço, mas eu já tenho destino planeado. Falaram-me do "À do João" e é aí que vou escolher o meu peixe.

Embora eu seja apenas uma viajante de passagem, consigo perceber o forte sentimento de comunidade. Em cada casa existe um furo de água ou um tanque de reserva. Algumas têm agua pública e luz. Outras apenas um fio pendurado pela rua entre árvores e estacas até chegar à luz do vizinho. As casas estão muito juntas, e posso imaginar que se te faz falta um copo de arroz, só é preciso pedir ao vizinho do lado.

Entretanto chegou um ferry. Traz dezenas de pessoas. É a hora de ponta. As pessoas passam a caminho da praia e das suas casas e transportam as compras, malas, cães e tudo o demais em carrinhos de mão enferrujados, que um dia pertenceram a algum hipermercado e que chegaram ali, à ilha, sabe-se lá como. Deixo passar o grupo e volta a paz.

Ao fim da rua encontro a casa de dois andares, recoberta de madeira escura. Na entrada, um grande grelhador a carvão e uma seleção de peixe fresquíssimo. Deixo reservado uma garoupa com ar simpático e vou até à praia. Tardo um minuto para ver de novo o mar. Desta vez, a cor esmeralda da água impressiona-me. Se do lado da Ria, a ilha é bonita, aqui a beleza da praia é inacreditável. Parece saída de um postal turístico do Brasil.

O Farol do Cabo de St.ª. Maria sempre presente no horizonte, vigia. Escolho poisar as tralhas no bar "Mar a Mais". Um pitoresco bar de praia em madeira vermelha e branca com tetos em palhinha. Aqui de novo Bob Marley, desta vez "Don't Worry... be Happy". Sorrio. Neste filme até a escolha da música foi bem cuidada. Peço uma caipirinha e deixo que as horas passem devagar. Afasto de quando em quando a sonolência e o torpor do sol com um mergulho na água cristalina. A vida deveria ser sempre assim. Simples. Sem problemas. Feliz.

Embora relutante em conetar-me com o mundo real, ligo o Iphone e tiro algumas fotografias. Penso depois em vocês, queridas leitoras e envio algumas fotos "live" com a vista do "Mar a Mais". Há coisas que têm que ser partilhadas com as pessoas de quem gostamos. :)

Na praia do Farol existe um concessão de camas e chapéus. Conheço a Tiago Guerreiro, o beach manager (por favor, eu adorava ter um cartão de visita com este título!) e que me informa que o pack do prazer: guarda-sol, duas espreguiçadeiras, um quebra vento e um potezinho em barro, tem um preço de 15 euros por dia. A boa notícia é que, pelo mesmo preço não só se tem direito às camas e chapéus nesta praia, mas também na praia da Culatra. Como é a mesma empresa que tem a concessão nas duas praias encontraram esta fórmula genial... por isso, aproveito e vou fazer a caminhada do dia até à Culatra. O passeio à beira mar de meia hora é feito com momentos inesquecíveis, como o caminhar por areia virgem sem pegadas, saltar entre a espuma do mar, recolher conchas e respirar o silêncio.

Por volta das quatro da tarde volto ao restaurante "À do João", para comer como uma autêntica rainha e sentada em cadeiras e mesas de plástico, a garoupa grelhada. Aqui "ser chique" não é usar roupas de marca ou carteiras de luxo. Aqui, ser chique é comer com os dedos, usar chinelos de praia e manchar-se a roupa e a cara com peixe e com um sorriso autêntico. Brindar com um rosé à vida e perceber que as coisas materiais não contam tanto e os problemas que todos temos podem ficar lá fora, do outro lado da Ria. Aqui, o tempo é outro.

O ambiente é tão relaxado, que fico a conversar com os da mesa do lado e que o empregado de mesa "Rodrigo" se sente a tomar contigo o licor final. A verdadeira hospitalidade portuguesa, encontra-se aqui em estado puro. Depois de um opíparo festim de peixe grelhado em toalha de papel, saio ditosa como se acabasse de almoçar num três estrelas Michelin. Depois da comida ainda fiquei a ver as nuvens a passar devagar, a conversar sobre qualquer coisa trivial e a cultivar um grande sorriso interior.

Há muitas coisas na vida que não se compram com dinheiro. E encontrar a paz num lugar pitoresco à beira mar, é um daqueles luxos simples e raros.

A luz começa a modificar-se. Terei que voltar ao cais. João, o do água-taxi, vem-me buscar às 19:00. Em Setembro, já se nota que os dias começam a ficar mais curtos.

Cruzo-me com a personagem de "Hemingway" ao pôr do sol. O velho magro, a pele marcada por rugas e manchas profundas dos anos de sol e sal. Vai devagar, em bicicleta, com a cana de pesca ao ombro, um cigarrito na lateral do lábio, o olhar feliz, cheio de mar. Vai a caminho do molhe, leva as linhas e alguns "palhaços" pendurados no bolso - os iscos em plástico que atraem os peixes. Ao passar por mim, olha-me com bondade e oferece-me um "boa tarde". Sorrio-lhe e fico a olhar enquanto desaparece no final da rua. Em paz.

E é então que sinto a enorme tristeza do dia. A de partir.

Queridas leitoras, aqui fica a advertência: ir à Ilha do Farol pode causar estados de relaxamento inauditos e é bem possível que queira (para sempre) voltar.

Beijinhos chiques.

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Informação útil para perder-se no Paraíso:

Direção: Ilha Do Farol- Ponta Oeste da Ilha da Culatra.

Pode-se chegar através de Olhão ou Faro.

Em Olhão o Ferry custa entre 3 e 5 euros por pessoa, a travessia tarda entre os 30 e 45 minutos.

Água-Taxi de Olhão à Ilha do Farol, 25 euros.

Água-Taxi de Faro à Ilha do Farol, 35 euros: Contate com João Pereira

Tel. 924.400.173 email: martaxifaro@gmail.com

Restaurante "À do João": " Um local de maresia onde a própria maré regressa duas vezes por dia." (não é lindo este slogan?) http://www.adojoao.com

Tel. 289 714 209

Bar de Praia "Mar a Mais": https://www.facebook.com/marAmaisFarol

Concessão da Praia do Farol e da Culatra: Molhe Leste

T. 919 331 212 (Tiago Guerreiro / Beachmanager)

molheleste.ilhadofarol@gmail.com

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