Palácio de Seteais. Um conto de fadas e o charme de um grande hotel.
Sintra é um museu aberto encapsulado em magia por uma natureza luxuriante. Aqui é fácil sonhar ser uma personagem de uma novela romântica, quiçá dos Maias de Eça de Queirós.
A poética rua Barbosa de Bocage conduz-nos desde o centro da vila histórica em direção ao Parque de Monserrate. Passa-se pelo Laurence, um dos hotéis mais antigos do país e onde se terá alojado várias vezes, o poeta e intelectual britânico Lord Byron. A rua leva-nos numa visita guiada pelo passado, por faustosas e enigmáticas entradas de quintas e palacetes.
A meio do caminho saúdam-nos o cantar de uma fonte cravada na Serra e os incomparáveis muros e pilares neogóticos da Quinta da Regaleira.Tudo isto, enche-nos o olho e o espírito, mesmo antes de chegar ao nosso destino, o grande hotel de Sintra, o Palácio de Seteais.
O grupo Tivoli Hotels é o responsável atual pela gestão desta unidade hoteleira de luxo, membro da marca WorldHotels Deluxe. Ao entramos nos jardins do Palácio de Seteais somos recebidos por uma aura antiga de charme clássico. Uma alameda em pedra, escoltada por árvores centenárias, conduz-nos até à imponente fachada do palácio.
O edifício foi mandado construir e inaugurado em 1787 por Daniel Gildmeister, cônsul holandês em Portugal. Durante as décadas seguintes, o Palácio de Seteais foi a residência de várias famílias ilustres, de entre as quais a casa de Marialva. O arco central que une as duas alas do palácio foi mandado erigir pelo quinto Marquês de Marialva aquando da passagem do Rei D. João VI e da sua Rainha Carlota Joaquina.
O Palácio de Seteais foi transformado em hotel de luxo e aberto ao turismo de qualidade na segunda metade do século XX. Em 2009, uma profunda modernização realizada pela Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva, veio devolver todo o esplendor e a magia original às antigas estâncias do palácio. Hoje é possível admirar as várias salas, suites e restaurantes com a sua decoração original, pinturas, tapeçarias, frescos e mobílias que encantam a viajantes nacionais e internacionais. Todos os quartos são diferentes com deslumbrantes frescos nas paredes. As casas de banho são revestidas a mármore e azulejos em preto e branco, com grandes banheiras, cortinas em seda e molduras douradas nos espelhos.
Para além da beleza da decoração, o Palácio de Seteais é um sítio muito especial devido ao pessoal treinado segundo a “velha escola” e que oferece um serviço de excelência.
Também existe uma curada coleção de experiências. Como se não bastasse realizar belos passeios pelos jardins da propriedade, pelos palácios e recantos naturais das redondezas, ou desfrutar da piscina exterior, existe ainda o “Centro Equestre de Seteais”, onde é possível ter aulas de equitação, ou realizar passeios a cavalo pelos mágicos caminhos da Serra de Sintra.
O restaurante do Palácio de Seteais
O restaurante do Palácio de Seteais, onde nos foi servido o pequeno-almoço e o jantar é todo um mimo. Está decorado ao estilo francês do século XVIII, com mesas adornadas com a fina porcelana da Vista Alegre rebordada a ouro, jogos de café e chá em prata e delicados copos de cristal.
Ao pequeno-almoço, a mesa central é decorada com um buffet elegante e repleto de iguarias, pães frescos e croissants, salmão fumado, queijos e fruta fresca. Os raios de luz da Serra de Sintra entram pelas janelas e refletem mil cores nas toalhas de linho e nas taças de cristal com marmeladas e compotas. A qualidade do pequeno-almoço é excelente e vale a pena alojar-se para desfrutar logo de manhã, de tão requintada experiência gastronómica.
É também neste restaurante que se servem os almoços e os jantares. Viemos jantar logo na primeira noite. Descemos do quarto pelas longas escadarias, atraídos pelo som do piano. Os degraus de madeira rangem ligeiramente, como se o edifício estivesse a falar connosco. Senti-me parte de um cenário de um filme de época ao percorrer lentamente o corrimão polido das escadarias, e apreciar as tapeçarias, os quadros e as esculturas, até chegar ao átrio do restaurante. O pianista saudou-nos com um sorriso educado e voltou a concentrar-se no seu “für elise”.
A carta tem uma mistura eclética de inspiração portuguesa e internacional. O amuse-bouche foi uma espetada de fruta, - trio de morango, papaia e ananás-, mojito de melão e hortelã e um blinis de salmão fumado.
De entradas pedimos um promissor “bacalhau em três texturas” – à brás, carpaccio e bolo de bacalhau- e um "creme brulée de foie-gras”, servido com pãozinho de brioche, de sabor delicado como um frufru de seda na lingua.
Escolhemos para o prato principal um dos grandes clássicos de hotelaria, uns “rolinhos de pregado com camarões e molho de verbena” servidos com arroz perfumado. O prato estava muito bem confecionado, mas o molho ficou um pouco aquém das expetativas. Eu pedi ainda um “risotto de vieiras, espargos verdes e camarões”, cozinhado no seu ponto cremoso e com um bom equilíbrio de sabores, quase a roçar a perfeição.
Para a sobremesa a escolha recaiu num dos grandes clássicos: uma pavlova de fruta e nata fresca. Saborosíssima e com um caráter histórico, a recordar os menus do princípio do século XIX.
No Restaurante do Palácio de Seteais celebra-se a gastronomia com um requinte clássico, inspirado nos grandes jantares do passado. É preciso que se mantenham lugares assim, onde a magia da hotelaria se reinventa cada dia, porém a essência original é preservada. Excelência no serviço, realizado por uma equipa sénior bem treinada e impecavelmente uniformizada com traje de serviço de mesa. Os chás e cafés vieram servidos num reluzente jogo de prata e casquinha e pequenos quadrados de brownie de chocolate negro.
A lenda de Seteais
Ao carisma natural do sítio Palácio de Seteais associam-se várias estórias, mitos e lendas. Uma das mais conhecidas é a “Lenda de Seteais” que remonta ao século XII, momento da reconquista pacífica de Sintra aos mouros. Esta lenda fala-nos dos sete “ais”, que virão a dar nome ao Palácio de Seteais e como todas as lendas existem várias versões, pois quem conta uma “estória acrescenta-lhe sempre um ponto”. Esta é aquela que me contaram:
Reza a lenda que o nobre português, Dom Mendo Paiva, encontrou a Anasir, uma jovem moura e a sua aia Zuleima, nos arredores das muralhas do Castelo de Mouros, que fugiam em direção à floresta. Dom Mendo Paiva fica encantado pela beleza de Anasir, quem ao ser surpreendida na sua fuga e bastante aflita suspira um “ai”. Zuleima, a velha aia, suplica à sua senhora para não voltar a proferir tal palavra. Dom Mendo Paiva cativado pela formusura da moura decide ajudá-las A ama revela que a bela Anasira estava enfeitiçada e que estava condenada a morrer quando proferisse sete “ais”. Preocupado, Dom Mendo Paiva esconde-as num lugar seguro e parte para continuar os trabalhos da reconquista. Porém, uma vez sozinhas, as mulheres são atacadas por um grupo de mouros, que as tornam prisioneiras. Anasir, ansiosa, suspira vários “ais” de preocupação. Os mouros cruéis degolaram a Zuleima e preparavam-se para perpassar o coração de Anasir com uma adaga, quando esta profere o sétimo “ai” e acaba por falecer por pavor. Dom Mendo Paiva ao voltar, descobre o corpo inerte de Anasir e fica transtornado com a situação. Jura vingança eterna e torna-se um valente e temerário caçador de mouros. Diz a lenda, que em Seteais, quando se dá um “ai” o eco devolve-o seis vezes, perfazendo e honrando os sete ais da bela moura Anasir.
Os Maias e Seteais
E já agora uma curiosidade deste nosso século. Sabia que o Palácio de Seteais foi utilizado com cenário da minissérie da Rede Globo "Os Maias", uma adaptação baseada na obra de Eça de Queirós? No final deste post deixo um mini-filme com as cenas rodadas em Seteais. Absolutamente fantástico!
Galeria Fotográfica do Palácio de Seteais | Tivoli Hotéis
(faça click na imagem para aceder à galeria e ver as imagens em formato maior)
Sintra na série "Os Maias" Rede Globo, 2001.
Podem-se observar cenas no Palácio de Seteais, logo no início do video, seguindo-se cenas rodadas na Quinta da Regaleira e no Palácio da Pena.